quarta-feira, 15 de agosto de 2012


      6.2 (cont.)


Caetano Alberto Munhoz
 (Fonte: "Retrospectiva Histórica da Secretaria da Justiça"- Curitiba, 1976- p. 115)
                  
 Caetano Alberto Munhoz, o segundo filho de CJM, nasceu em 19 de outubro de 1847 e faleceu em 2 de maio de 1907 (96).  F. Negrão informa que ele foi nomeado em 1870 para o cargo de 2º escriturário da Tesouraria de Fazenda do Pará, transferindo-se em 1873 para a Tesouraria do Paraná já como 1º escriturário.  No começo de 1881, o governo imperial o nomeou, em comissão, Inspetor do Tesouraria de Fazenda de Mato Grosso, sendo depois removido para a  Alfândega de Santos e nomeado, por decreto de 1º de julho de 1890, Inspetor, em comissão, da Alfândega de Paranaguá. Aposentou-se em 1892, quando exercia o cargo de Inspetor da Tesouraria de Fazenda de S.Paulo. Ainda nesse Estado, foi sub-diretor da empresa “Docas de Santos” (97). Depois de aposentado exerceu o cargo de Secretário do Interior, Justiça e Instrução Pública. Segundo Ermelino de Leão (de cujo “Dicionário Histórico e Geográfico” é um verbete), Caetano Alberto exerceu esse cargo durante um quatriênio (governo Xavier da Silva/Vicente Machado) inclusive “no agitado período revolucionário de 1893-1894, sem chamar a si odiosidades”. Permaneceu no Paraná durante esse período, “sem ser molestado”, após a “precipitada retirada para São Paulo” de Vicente Machado (98). F. Negrão acrescenta a esses dados a informação de que Caetano Alberto, revertendo à Fazenda, faleceu no exercício do cargo de Delegado Fiscal do Tesouro Nacional em Curitiba. Era coronel da Guarda Nacional (99). Publicou diversos trabalhos relacionados à sua área profissional, além de uma comédia, quando jovem (“Antes do baile”). O escritor Alcides Munhoz (1873-1930) é filho de seu primeiro casamento. Alcides, por sua vez, é pai do advogado e ex-deputado estadual Laertes Munhoz (1900-1967), presidente da Assembleia Legislativa em 1953, no ano do centenário do Paraná.

Alcides Munhoz
            (Fonte: Museu Paranaense)

 Seguem abaixo algumas referências a Caetano Alberto que encontrei na pesquisa que fiz no jornal “Dezenove de Dezembro”. Embora se refiram mais às sçuas atividades juvenis e ao início da vida profissional, representam informações adicionais ou complementares àquelas que já reunimos aqui, e que fornecem pistas para uma caracterização da sociedade paranaense no tempo do Império.    

Caetano fazia teatro aos 17 anos. Em 1864, nota do DD sobre “teatro de moços” refere-se ao sr. Caetano Alberto, um dos atores, e também ao teatro Sete de Setembro bem como à Sociedade Dramática Particular. Eles levaram à cena “Casamento e despacho” de Antonio Serpa e “O novo Otelo” do “nosso maviosíssimo Macedo” (100), ou seja, de Joaquim Manoel de Macedo, o autor de “A Moreninha”, que também escreveu para o teatro.

Quatro anos depois, em 1868, o mesmo jornal publica matéria, intitulada S.D.P.Phenix (Sociedade Dramática Particular Phenix), assinada pelo diretor Júlio Franco e secretário Caetano A. Munhoz (seu primo), em que estes enfatizam a necessidade de se reerguer essa antiga sociedade dramática. Os signatários pedem o apoio da população para tanto, que deve subscrever lista que lhe será oportunamente apresentada. A assinatura deve ser pelo menos por seis meses. A sociedade dará um espetáculo por mês (101). O objetivo assim era assegurar um público mínimo que permitisse a sobrevivência da sociedade dramática, nessa Curitiba com poucas opções de lazer, antes do advento do cinema. A propósito, a primeira sala fixa de exibições cinematográficas no país é de 1897, aberta no Rio de Janeiro, enquanto o futebol só seria introduzido oficialmente aqui em 1894, por Charles Miller (102). Com relação aos esportes, o que predominava nessa época eram as corridas de cavalos. Como havia poucas opções de lazer, as festividades religiosas assumiam então maior importância.

Em 1871 consta no DD nota de Francisco de Assis Gonçalves que, ao retirar-se da capital, agradece à Sociedade Dramática Particular de Curitiba pelo fato de ter oferecido em benefício da esposa dele, a atriz Minelvina Rosa dos Santos Gonçalves, o espetáculo teatral realizado em 3 de maio de 1871 (cf. anúncio publicado no jornal) (103). Faz questão de destacar três membros da Sociedade-- Caetano Alberto Munhoz, Júlio de Oliveira Ribas Franco e Adolpho Ribas de Oliveira Franco. Os dois últimos eram primos de Caetano Alberto, filhos do brigadeiro Manoel de Oliveira Franco, irmão de sua mãe Francisca, a 1ª. esposa de CJM. Júlio trabalhava então na secretaria da presidência da Província do Paraná (104).  Caetano Alberto foi seu padrinho de casamento. O DD o cita como um dos padrinhos arrolados dos três casamentos conjuntos que se realizaram em 2 de setembro de 1871, envolvendo duas filhas (Francisca e Thalia)  e um filho de Manoel de Oliveira Franco (Júlio). Os casamentos se realizaram na casa do brigadeiro, em “oratório particular” (105).

Em fevereiro de 1872, o jornal divulga o resultado da eleição, realizada entre os sócios, para os cargos da administração da sociedade dramática Phenix. O presidente será Júlio de Oliveira Ribas Franco, o vice-presidente, João Ferreira Leite, o 1º secretário, Caetano Alberto Munhoz, o 2º secretário, Constantino Ferreira Belo, e o tesoureiro, Francisco de Paula Fonseca (106). Em julho de 1873 o DD publica uma nota, sob o título “Phenix”, em que o signatário, “C.A.” (Caetano Alberto), convida os sócios que vão participar do drama “que vai entrar em ensaios” a comparecerem no teatro no dia 17 de julho, às 7 horas da noite, “a fim de receberem suas partes” (107).  Quase um ano mais tarde, no DD de 6 de junho de 1874- p.4, ainda consta um anúncio de uma apresentação da Sociedade Dramática Particular Phenix.

Caetano Alberto foi também 1º secretário de uma outra sociedade, a   “Recreio Literário”, “destinada ao cultivo das letras”, conforme  edição do DD de 6 de fevereiro de 1875, p. 2. O presidente dessa associação é o Dr. Generoso Marques dos Santos (que já fora deputado provincial e era do Partido Liberal; fazia poemas e exercia o jornalismo), o vice-presidente é o Pe. Antonio Vicente da Cruz. Os outros cargos da diretoria são: 2º secretário: Maurílio Moreira de Magalhães Sampaio; 1º orador: Dr. Joaquim Ignácio Silveira da Mota Jr.; 2º orador: Dr. Joaquim de Almeida Faria Sobrinho; tesoureiro: Constantino Ferreira Belo; bibliotecário: Francisco Antonio de Souza Castro.

Os objetivos da associação “Recreio Literário” eram:

--Contribuir para o desenvolvimento intelectual de seus membros, proporcionando-lhes um entretenimento útil e agradável, por meio do estudo dos bons livros.
--Promover discussões sobre teses científicas e literárias.
--Formar uma biblioteca de obras nacionais e estrangeiras, para cujo fim a diretoria irá promovendo a aquisição dos de reconhecida utilidade, havendo para esse fim os fundos necessários.
--Instituir, quando as circunstâncias da associação o permitirem, cursos de retórica, história, geografia e filosofia, e de outros conhecimentos úteis. 


O relatório do presidente Adolpho Lamenha Lins de 15 de fevereiro de 1876, p. 56, além de transcrever os objetivos da associação citados acima, informa que a sua biblioteca possuía 485 volumes. Acrescentando os anais do senado de 1861 a 1873 e do parlamento brasileiro de 1864 a 1875, além de relatórios diversos, o número de volumes se elevava para 851. O presidente se estende sobre a questão das bibliotecas em seu relatório, revelando a importância que atribui ao tema. Refere-se inicialmente à Biblioteca Pública, em Curitiba, para a qual pede a atenção da Assembleia Legislativa. Os “restos antes dispersos” da antiga biblioteca, 834 livros, foram reunidos na casa onde funcionava a Inspetoria da Instrução Pública. Quanto às bibliotecas ligadas às entidades associativas, além daquela mantida pela sociedade “Recreio Literário”, menciona outra em Curitiba, a do “Club Literário Curitibano”, com 584 volumes, inaugurada em 19 de dezembro de 1874, cujo presidente honorário era o Dr. Agostinho Ermelino de Leão. Menciona também as do interior da província-- do  Club de Leitura Portocimense, Club Literário de Paranaguá, Club Democrático Antoninense, Club Literário Campo Larguense, Club Literário Pitanguyense, além das de Castro e Lapa (Associação Literária Lapeana).

Um ano antes desse relatório de Lamenha Lins, na data da edição do DD antes referida, a biblioteca da sociedade “Recreio Literário” contava 335 volumes doados pelas pessoas ali mencionadas. Caetano Alberto doou 28 volumes, seu irmão Alfredo Caetano, 13, seu primo Júlio de Oliveira Ribas Franco, 21. O Conselheiro Manoel Francisco Correia (1831-1905) foi quem mais doou: 72 volumes (108). Esse irmão do Barão do Serro Azul era, em 1875, deputado da Assembleia Geral (ou Câmara dos Deputados). Já fora presidente dela, e também da província de Pernambuco, além de ministro de Estrangeiros no gabinete conservador do Visconde do Rio Branco em 1871 (109). Em edição de 7 de julho do mesmo ano, o secretário “Caetano Alberto”, da sociedade “Recreio Literário”, comunica que haverá sessão no domingo, dia 11 de julho de 1875, às 6 horas da tarde, para discutir a tese apresentada pelo Dr. Faria Sobrinho – “O amor da pátria é um sentimento natural ou efeito da educação?” (110).    

A sociedade “Recreio Literário” é mencionada em duas notas publicadas na “Província do Paraná”, de Curitiba (que apoiava o Partido Liberal), em outubro de 1876, e assinadas pelo 1º secretário Caetano Alberto. Nelas, ele contesta alguém (cujo nome não é citado) que deve ter feito algum comentário maldoso por estar em seu poder “objetos” da sociedade (“Se os conservo, não é porque queira apoderar-me do que é alheio”: só quem mal usa é que terá cuidado o contrário disto”). Tal acervo ele “prontamente” entregará “a quem se mostrar com direito, não obstante estar eu, em nome dela, responsável para com os srs. Leuzinger & Filho por uma dívida de 84$000”. Fecha uma das notas referindo-se, em termos indiretos e irônicos, ao maledicente: “Com o belo alazão todos compreendem que não devo meter-me para evitar algum coice(111). Esse tipo de nota aparecia com frequência na imprensa local da época. 

No relatório de Lamenha Lins de 15 de fevereiro de 1877 a sociedade “Recreio Literário” já não é mais citada, indicando talvez que se desfizera. Com relação a Curitiba, só é mencionado o Club Literário Curitibano, cuja biblioteca possuía então 702 volumes (p.64).  Os “poucos livros” da Biblioteca Pública achavam-se depositados agora numa das salas do Instituto Paranaense. O presidente pede a “solicitude” da Assembleia Legislativa em seu favor (p.63).     

Em 1867, o DD informa sobre a eleição, realizada em 29 de maio, da nova mesa da Irmandade do Senhor Bom Jesus do Perdão, “que se venera na igreja de Nossa Senhora do Rosário” em Curitiba, relativa ao período 1867-69. Compareceram à eleição 152 irmãos. O tenente Caetano Alberto é eleito um dos 12 mesários (com 74 votos), enquanto Fidêncio Antônio Munhoz é eleito “procurador” (com 77 votos) (112). A Fidêncio, porteiro da Tesouraria Provincial, dedico o capítulo 8 deste trabalho. Se havia alguma relação de parentesco dele com CJM ou seus filhos, não consegui apurar. F. Negrão não o cita na “Genealogia Paranaense”. Como se viu antes, CJM foi um dos “irmãos instituidores” dessa irmandade, que foi constituída mais recentemente. Teve o seu Compromisso aprovado em 1864. 

Caetano Alberto também participava da antiga Irmandade do SS. Sacramento, da Igreja Matriz. Em 1868 ele é eleito um dos 12 mesários dessa irmandade, “que tem de funcionar no ano de 1869”. Outro mesário eleito é Emílio Nunes Corrêa de Menezes, pai do famoso poeta curitibano de mesmo nome. Um dos 8 “provedores” escolhidos é o Dr. José Cândido da Silva Murici (113). Mais tarde, em 1873, o DD afirma que Caetano Alberto foi eleito novamente um dos 12 mesários para a administração da mesma irmandade, juntamente com 8 provedores (dentre os quais os ervateiros Vicente Ferreira da Luz e Luiz Manoel Agner), tesoureiro, procurador e escrivão. Eles devem servir no “ano compromissal” de 1873-1874 (114).  

Caetano Alberto segue assim a tradição da família e os costumes da época. Como se viu antes, e se verá ainda, também seu avô Florêncio José Munhoz, seu pai CJM e seus irmãos Alfredo e Florêncio (neto), participaram de irmandades religiosas. Como a religião oficial do Império era a católica, as pessoas podiam associar-se a essas irmandades mais por uma imposição social do que por convicção religiosa, o que, todavia, não exclui este último caso.
Caetano Alberto também frequentava a Maçonaria. Em uma edição do DD de 1876 (115), ele é mencionado como um dos que “produziram poesias e discursos” na festa maçônica realizada em 24 de junho, promovida pelos “obreiros da loja Apóstolo da Caridade”. Dias depois, o jornal informa (116) que essa mesma loja maçônica mandou celebrar missa pela alma da finada esposa do conselheiro Saldanha Marinho. Essa referência nos induz a associar tal loja à corrente maçônica liderada por este republicano histórico (1816-1895). Nessa época, segundo o “Dicionário do Brasil Imperial”, havia uma disputa entre o Grande Oriente, dirigido pelo Visconde do Rio Branco, e o Grande Oriente do Brasil, presidido por Saldanha Marinho, disputa essa que se  estendeu de 1863 a 1883.  Enquanto a primeira organização enfatizava mais o caráter filantrópico da Maçonaria, a segunda, sob influência francesa, salientava a sua atuação política (117).
No ano seguinte, 1877, conforme já mencionei, Caetano Alberto e Alfredo participarão de outra festa maçônica, esta realizada na loja “Concórdia 4”, localizada no Alto de S. Francisco.
Em 1879, segundo a “Província do Paraná” de 30 de agosto, p. 4,  o requerimento de Caetano Alberto Munhoz e de outros cidadãos recebeu parecer favorável da “comissão de terrenos do quadro urbano” da Câmara Municipal de Curitiba.  Com relação a outras pessoas, a edição de 6 de setembro, p. 4, do mesmo jornal informa que a comissão é pelo indeferimento, pois “a Câmara resolveu que não se concedesse mais terreno aos requerentes, visto já possuírem em grande quantidade que não está ainda edificado”. Este era assim o benefício público esperado de tais concessões.  
Quanto à vida profissional (no tempo do Império) de Caetano Alberto, o DD também faz algumas referências a ele. Mostra que foi admitido como “colaborador” da secretaria da presidência em 1866, aos 19 anos, pois consta no “Expediente da Presidência” de 7 de abril despacho autorizando tal colaboração, mediante a gratificação de 50$000 mensais (118). O presidente da Província em exercício era então Agostinho Ermelino de Leão, que governou de 23 de março a 15 de novembro de 1866 desta vez (119). Trata-se de alguém radicado na comunidade local, e certamente sensível à influência de CJM. Ainda em 1866, o jornal informa que Caetano Alberto foi nomeado para o posto de tenente-cirurgião do 1º corpo de cavalaria da Guarda Nacional (120), comandado pelo pai (no futuro Caetano Alberto se tornará coronel, conforme tratamento que lhe é dado por F. Negrão). Em 28 de fevereiro de 1867 ele é nomeado “amanuense” da secretaria do governo provincial. O presidente era então Polidoro César Burlamaque (121). Em 1870 o jornal informa que ele é um dos quatro candidatos que se submeterão aos exames para os lugares vagos de “2º escriturário”, “amanuense” e “praticante” da Tesouraria  de Fazenda (ele tem então 23 anos). A edição do DD de 13 de julho afirma que todos os candidatos foram aprovados. Os exames abrangeram Gramática Portuguesa, Ortografia, Aritmética, Francês, História e Geografia do Brasil, Álgebra e Escrituração Mercantil (122). Ele ocupou vaga de  “2º escriturário”. Em 1873 é nomeado “1º escriturário” da Tesouraria de Fazenda (123). E em 1876 sua renda, como empregado público, é de 1:600$000 (124).
No “Expediente da presidência” da província, publicado no DD de 11 de julho de 1880- p. 2, consta despacho à Tesouraria geral informando que foi colocada
à disposição desta presidência a quantia de 200$ para ser entregue a Caetano Alberto Munhós, em retribuição dos serviços que prestou, como oficial de gabinete, ao ministro da agricultura, durante o tempo que este se achou nesta  província
O ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Manoel Buarque de Macedo, integrou a comitiva do imperador D. Pedro II em sua visita ao Paraná em maio de 1880 (125). Logo, foi para ele que Caetano Alberto prestou serviços enquanto aqui esteve, acompanhando o Imperador.  
Em 1881, o 1º escriturário Caetano Alberto Munhoz é nomeado inspetor da Tesouraria de Fazenda da província de Mato Grosso (126), transferindo-se então para Cuiabá. Mas a estadia aí não lhe foi feliz, como se verá adiante. Sucedeu seu irmão Alfredo, que ali esteve, ocupando o mesmo cargo, durante 1878-79.

Em 22 de março de 1881, Caetano Alberto e Alfredo apresentaram “requerimentos para serem alistados eleitores” (127), os quais são deferidos. O edital do juiz de direito da comarca da capital, Agostinho Ermelino de Leão, publicado no jornal no final de junho (128), inclui os seus nomes no alistamento  dos cidadãos da paróquia de Curitiba. Tratava-se do primeiro alistamento eleitoral realizado na província, determinado pelo presidente João José Pedrosa (cf seu relatório de 16 de fevereiro de 1881, p. 13), em decorrência da chamada “Lei Saraiva” (decreto nº 3.029, de 9 de janeiro de 1881), que reformou a legislação eleitoral, acabando com as eleições indiretas para senadores e deputados, tanto à assembleia geral quanto às provinciais.   
O DD de 25 de outubro de 1882, p.3, informa a chegada a Curitiba de Caetano Alberto Munhoz, “digno inspetor da tesouraria de fazenda de Mato Grosso”. Alguns dias depois, o jornal (129) noticia o falecimento da esposa dele, D. Leonídia da Silva Pereira Munhoz, com apenas 26 anos, que deixa quatro filhos. Caetano Alberto veio à terra natal para tratamento da saúde dela. Mas os recursos empregados “para debelar o mal e salvá-la” foram ineficazes. A nota conclui afirmando que seus “graves sofrimentos” começaram em Mato Grosso, para onde Caetano Alberto havia sido transferido. Pelo convite para missa de 7º dia, publicado no DD (130), depreende-se que a irmã de Leonídia era casada com Joaquim de Almeida Faria Sobrinho (1847-1893), futuro presidente da província, filiado ao Partido Conservador. O presidente Faria era assim seu concunhado (a propósito, Faria foi procurador da viúva de CJM, e de outros herdeiros, no inventário de CJM em 1878).     
Na sequência, Caetano Alberto é transferido para Santos, nomeado 1º escriturário da sua Alfândega e, alguns meses depois, Chefe de Seção da mesma entidade (131). Em 25 de abril de 1885, contrai 2as. núpcias com D. Maria da Conceição Lustosa, sua prima, filha do tenente-coronel Antônio Ricardo Lustosa de Andrade (1823-1884), casado com uma irmã de D. Francisca, a mãe de Caetano Alberto. Esse seu tio ocupou vários cargos públicos e foi deputado provincial nos biênios 1868-69 e 1880-81 (132). Ainda em 1885, o jornal informa sobre o lançamento de obras suas, vinculadas às atividades profissionais. Assim, em outubro consta este anúncio:  

Obra útil-  “Apontamentos sobre livros, contratos comerciais, contas correntes (selos e outras formalidades)” por Caetano A. Munhoz, chefe de seção da alfândega de Santos. Acha-se à venda na Livraria Contemporânea à rua da Imperatriz (133).

O jornal, no mês anterior, já havia se referido a esse trabalho, que lhe fora ofertado pelo autor: 

É um excelente pecúlio de esclarecimentos abreviados e seguros para os comerciantes em relação aos livros que devem ter, modo de escriturá-los e legalizá-los, e não menos digno de apreço para os que se dedicam à profissão do foro. Parabéns ao seu distinto autor (134).

A Livraria Contemporânea, que funcionava na rua da Imperatriz nº 36  (atual XV de Novembro), vendia também óculos e pince-nez, cordas para rabeca e violão, palhetas para clarineta e requinta, mamadeiras e bicos...(135). Outro anúncio publicado no jornal (136) informa que a Livraria Contemporânea vendia ainda “termômetros Celsius para médicos”  (também a Livraria Popular, na rua do Dr. Westphalen, além de livros, inclusive “franceses, ingleses e alemães”, vendia artigos de escritório) (137). Revela-se aí a precariedade dessas livrarias, e também a do meio, pois a diversificação de atividades dos estabelecimentos indica o fraco mercado para livros.   
Uma edição do DD em 1886 (138) traz nota sobre o folheto “Apontamentos sobre as atribuições e expediente das inspetorias comerciais”. Nele, diz a matéria, o autor compilou diversas disposições referentes às inspetorias comerciais, criadas pelo decreto nº 6.384, de 30 de novembro de 1876. Segundo o jornal, “É um trabalho excelente e que deverá ser utilíssimo às repartições de fazenda e ao comércio em geral. Agradecemos o exemplar que nos foi enviado”. Note-se que Caetano Alberto, apesar de suas vinculações ao Partido Conservador, não se impede por isso de encaminhar uma cópia do trabalho ao DD, órgão do Partido Liberal desde 5 de setembro de 1885.
No ano seguinte, 1887, em uma edição do DD (139) consta nota sobre outro trabalho de Caetano Alberto, “digno chefe de seção da alfândega de Santos”, intitulado “Canhenho dos conferentes e despachantes das alfândegas e mesas de rendas”, com 255 páginas, publicado em S.Paulo.
E em abril de 1888 (140), o jornal informa que ele foi nomeado inspetor da alfândega de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.  Mas segundo a parte histórica do site da Receita Federal Caetano Alberto exerceu tal função em 1887 e 1888 (141).
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Luíza Cândida Munhoz faleceu solteira, segundo F. Negrão. Foi batizada em 12 de março de 1849, “com dois meses e meio de idade” (142). Faleceu em 1886, como se depreende da seguinte nota, contida no DD de 11 de março de 1886- p.2:
Vítima de febre amarela, que infelizmente está tomando grande desenvolvimento na corte, faleceu a exma. sra. d. Luíza Munhoz, irmã do sr. Alfredo Munhoz, cuja senhora se achava ali de passeio, em companhia de seus parentes. Tão prematuro quanto inesperado golpe muito deve ter contristado o coração de sua extremosa família, à qual enviamos a expressão do nosso pesar.
Tinha então 37 anos, apenas.  Seu nome completo era Luíza Cândida Munhoz, conforme consta no convite para a missa pela sua alma mandada celebrar por “Alfredo Caetano Munhoz, seus irmãos e cunhados” na mesma igreja matriz de Curitiba onde fora batizada (143). Em outra edição do DD (144) os irmãos Alfredo, João Alberto e Florêncio Munhoz, além do cunhado Manoel Negrão, agradecem ao Dr. Caetano de Faria e Albuquerque e seus familiares pelo tratamento que lhe deram, pois “um só minuto não deixaram de cercar o leito da enferma com o carinho e desvelo próprios de almas elevadas”. Afirmam ainda na nota que Luíza “em seus últimos momentos só lamentava a ausência dos íntimos parentes”.    
Em 1859, “Luizinha” é citada numa carta de D. Francisca a seu filho Alfredo, que então estudava em Petrópolis, transcrita anteriormente. Ela, aos 10 anos, frequentava escola de uma senhora bahiana, “bem boa mestra”, segundo a mãe.  
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Augusta Munhoz e Manoel de Souza Dias Negrão
(Fonte: "Memorial de Família" por Eremir Bley Corrêa. Curitiba, 1995- p. 182)

  Augusta Cândida Munhoz  nasceu em 13 de março de 1851 e faleceu em 22 de junho de 1920 (145). Casou-se com o major Manoel de Souza Dias Negrão (1848-1895), que viria a ser secretário interino do governo provincial em 1877 e deputado da Assembleia Legislativa do Paraná, no biênio 1878-79, da qual foi 1º secretário. Pertencia ao Partido Conservador. Em 1880, era vereador de Curitiba. Também secretariou o Club Literário Curitibano (146).

Conforme informações de diversos relatórios de governo, iniciou sua vida profissional como “arquivista” da secretaria da presidência. Depois foi nomeado “praticante” da Tesouraria Provincial pelo vice-presidente Manoel Alves de Araújo, conforme seu relatório de 1865, e “amanuense” da mesma Tesouraria pelo presidente Antonio Augusto da Fonseca em 1868, onde permaneceu até 18 de julho de 1870.  Em seguida, foi administrador da barreira de Curral-Falso e, com a extinção desta, nomeado para uma das barreiras da estrada da Graciosa, responsável aí pela arrecadação das taxas governamentais. Continuou portanto vinculado à Tesouraria Provincial, que abrangia então 9 coletorias, 4 registros, 6 barreiras, 1 agência e 2 estações fiscalizadoras. Em 1875, foi nomeado escrivão da barreira do Bacacheri e no princípio de 1876, oficial da secretaria da presidência (ou do governo provincial) pelo presidente Lamenha Lins, conforme seu relatório desse ano. Esse mesmo presidente afirma, em seu relatório do ano seguinte, que o promoveu a major comandante do 1º batalhão de artilharia da Guarda Nacional da Capital em 4 de março de 1876. Afirma também que o nomeou, em  novembro deste ano, chefe da 1ª seção da secretaria do governo, sendo secretário o Dr. Justiniano de Mello e Silva. O jornal deste, “O Paranaense”, fazia constar no cabeçalho-- “Orgão do Partido Conservador”, mas adotava uma postura crítica inclusive com relação a membros de seu partido. O jornal de Justiniano abriu espaço a Manoel quando este se tornou deputado provincial (v. edições de “O Paranaense” em 1877-78) (147).

Manoel, chefe da 1ª seção, substituiu Justiniano de Mello e Silva, a partir de 17 de setembro de 1877, quando este se licenciou e em seguida deixou a secretaria do governo provincial (cf relatório do presidente Joaquim Bento de Oliveira Júnior de 7 de fevereiro de 1878, p.78). Deve ter permanecido no cargo por quase cinco meses (após a gestão de Lamenha Lins, no período do vice-presidente Manoel Antônio Guimarães e do presidente Joaquim Bento de Oliveira Jr), até pelo menos 16 de fevereiro de 1878, data da Carta Imperial que nomeou o novo secretário da província, segundo relatório do presidente Rodrigo Octavio de Oliveira Menezes de 9 de abril desse ano, p. 8. 

Em 1879, o deputado Manoel Negrão apresentou um projeto de lei na Assembleia Provincial “que altera artigos de posturas da câmara da capital”, em benefício dos comerciários da época. O projeto proibia que os seus estabelecimentos abrissem as portas nos domingos, das 3 horas da tarde em diante. No ano anterior, Manoel Negrão já havia apresentado projeto semelhante, que não foi sancionado pelo presidente Rodrigo Octavio. Ele agora excluiu os dias santificados. Mas seu projeto só conseguiu ser aprovado pela Assembleia após sofrer nova alteração, restringindo o fechamento dos estabelecimentos comerciais nos domingos apenas das 3 horas da tarde até às 7 da noite. De qualquer forma, a “classe caixeiral” comemorou sua sanção pelo presidente Dantas Filho, saindo às ruas de Curitiba com banda de música e queimando fogos (cf edições de “O Paranaense” de julho e agosto de 1879: em julho, dias 10 e 17- p. 4, e em agosto, dias 10, 17 e 26- p. 2, 3 e 2, respectivamente).         

Registre-se ainda que Manoel de Souza Dias Negrão foi um dos proponentes no processo de arrematação da renda das barreiras da estrada da Graciosa, promovido pelo governo provincial, relativamente à arrecadação das taxas aí cobradas. Mas sua proposta, que oferecia 136:300$000 ao governo, não foi a vencedora dessa arrematação. Assim, outro proponente se encarregaria do serviço de arrecadá-las. De qualquer forma, o valor da proposta de Negrão indica a elevada capacidade financeira de que dispunha (cf. relatório do presidente Carlos de Carvalho de 1º de outubro de 1882, p.27-28).

Mais tarde, seu nome também aparece como um dos que apresentaram proposta na concorrência aberta pelo governo provincial para o serviço de conservação da estrada da Graciosa. Mas o presidente Faria Sobrinho escolheu a proposta de Lino de Souza Ferreira mais vantajosa  aos interesses da Província, conforme consta em seu relatório de 17 de fevereiro de 1887, p. 33.

Com o advento da República, o governador do Estado (não mais Província) José Marques Guimarães, reduziu para duas as três seções da Secretaria do Governo, pelo decreto nº 6, de 23 de dezembro de 1889. Em consequência, dispensou Manoel do lugar de chefe da 2ª seção da Secretaria do Governo, transferindo para esta o titular da 3ª seção. Logo depois, pelo decreto nº 30, ele seria aposentado como chefe da 2ª seção. A propósito, o poeta Emiliano Perneta, recém-formado pela faculdade de Direito de S.Paulo (que nas férias fazia aqui campanha abolicionista e republicana), foi nomeado nessa oportunidade oficial de gabinete daquela Secretaria. Emiliano também integraria, juntamente com outros cinco membros, uma comissão criada pelo governador para  “organizar um plano imediatamente exequível e relativo à instrução pública, primária e secundária, deste Estado”, objetivo cumprido pela referida comissão (cf relatório do contra-almirante José Marques Guimarães de 18 de fevereiro de 1890, p. 4, 5 e 11).    

Segundo Francisco Negrão, seu tio Manoel de Souza Dias Negrão foi um dos onze filhos do Cap. João Negrão, o velho, português que desembarcou em Paranaguá em 1814 “e foi negociante e exportador de madeiras e betas” (148), tendo ali se casado. “Foi um dos primeiros beneficiadores de erva-mate no Estado, cujo serviço era feito em pilões, por braço escravo”. Depois de residir em Morretes, “onde continuou com o mesmo ramo de negócio”, transferiu-se em 1834 ou 1835 para Curitiba, estabelecendo-se “com negócio de fazendas, armarinhos, secos e molhados, fazendo construir um engenho de beneficiar erva-mate movido a força hidráulica”. Manoel era irmão de João, Ricardo e Antônio, citados adiante. João Negrão, capitão como seu pai homônimo, ocupou cargos no governo e foi deputado à Assembleia Provincial. Pertencia ao Partido Conservador. Faleceu em 1887. Deu nome a uma das ruas centrais de Curitiba, antes rua do Rio Paraná. Era pai de Francisco Negrão (1871-1937). Faleceu quando o historiador era ainda muito jovem. Por isso, colheu sobre ele diversos depoimentos, que incluiu na “Genealogia”, um dos quais de Alfredo Munhoz:

Só tenho motivos para aureolar a memória do ilustre e proeminente membro da distinta família Negrão. Como político, vi-o sempre nas mesmas fileiras a que eu pertencia, sob a honrada chefia do inesquecível e grande homem Dr. Manoel Euphrasio Correia. Sempre constante e leal ao seu partido. Exemplaríssimo chefe de família...Coração aberto aos mais nobres sentimentos, foi modelo de Amigo (149).  

En passant, gostaria de salientar que se explicita aqui, nesse depoimento de 1914, a opção política de Alfredo, que por dever de ofício serviu tanto a governos liberais quanto conservadores. Todavia, na edição de 26 de setembro de 1885, p.4, “O Futuro” transcreve discurso do mesmo Manoel Euphrasio na Câmara dos Deputados, em debate com o outro deputado pela província do Paraná, o liberal Manoel Alves de Araújo, que havia acusado a Tesouraria de Fazenda de ser “o centro da cabala do partido conservador na última eleição” (i.e, a de deputado geral). Manoel Euphrasio não contesta a opção conservadora de Alfredo mas apresenta como argumento contra Alves de Araújo a carta que o presidente liberal Brasílio Machado envia a ele, ao deixar o governo em 20 de agosto de 1885, agradecendo “sua lealdade e zelo com que coadjuvou-me no desempenho do referido cargo” (mas o mesmo presidente havia perseguido politicamente Florêncio -- irmão de Alfredo e funcionário da Tesouraria -- por não apoiar o seu candidato à Câmara dos Deputados...). Fica clara também aqui a admiração de Alfredo por Manoel Euphrasio Correia (1839-1888), para mim muito questionável, adotando-se os critérios progressistas de sua época.  

Os outros irmãos do marido de Augusta, major Ricardo de Souza Dias Negrão (1835-1921) e major Antonio Ricardo de Souza Dias Negrão (1846-1912), eram também militantes do Partido Conservador. Enquanto o primeiro dirigiu o jornal “O Democrata” e fez parte da redação de “O Pionier”, juntamente com Tertuliano Teixeira de Freitas (pertencendo a uma corrente divergente do Partido, após a morte de Manoel Euphrasio), o segundo foi deputado provincial e exerceu vários cargos públicos (150).  

No livro “Revivendo fatos da infância e da adolescência”, de Lilia Albuquerque Vellozo, bisneta de CJM e neta de Augusta Munhoz Negrão, é possível entrever uma cena da vida doméstica da sociedade escravocrata curitibana (a época deve ser o final da década de 1850, se considerarmos o ano de nascimento de Augusta).  

   Primogênita (sic) de Caetano Munhoz, por quem ele tinha predileção, (Augusta) foi criada no seio de família numerosa, com muito luxo e regalias de uma pessoa rodeada de escravos.
   Seu pai era proprietário de um engenho de erva-mate, o primeiro engenho a vapor de Curitiba, localizado no alto da Glória, onde tudo ali lhe pertencia, inclusive uma Capela que mandou construir. Minha avó recebeu educação esmerada, lia e escrevia muito bem e tocava piano.
   Com o falecimento de sua mãe, seu pai (CJM) contraiu novas núpcias, com uma sobrinha, advindo desse matrimônio outros filhos. /.../
   Meu bisavô era severo no que dizia respeito à educação dos filhos; uma das coisas que não permitia era que as filhas entrassem na cozinha.
Certa vez, minha avó fez uma travessura; a pretexto de ir buscar um pouco d’água, entrou  na cozinha, sem que os familiares notassem. Assustada, ao vê-la, a escrava derrubou uma gamela de louças que carregava. Em prantos, entrevendo o castigo que a esperava, pediu ajuda a minha avó. Esta tranquilizou-a, dizendo que intercederia em seu favor; e foi o que fez mais tarde. Assumiu a culpa, dando outra versão ao caso, ao mesmo tempo que pedia escusas, pela desobediência.
Sempre bondoso para com ela, seu pai repreendeu-a brandamente pela falta e disse rindo:
-- Quanto à louça, minha filha, não se amofine, se não fosse assim, os comerciantes não enriqueciam...
   Minha avó casou-se com Manuel de Souza Dias Negrão /.../
   Meu bisavô não fazia muito gosto com esse casamento /.../  Finalmente, acabou cedendo e deu uma grande festa, no dia do enlace, em duas casas de sua propriedade, nas esquinas da atual Rua Marechal Deodoro, com vistas para a Praça Zacarias. Numa dessas casas foi feito um almoço para os pobres, e na outra, para as pessoas das relações sociais de meu bisavô.
   /.../
   A fortuna de meu bisavô evaporou-se com a sua morte repentina. Minha avó, que deveria herdar tanta coisa, nada recebeu, a não ser uma pequena quantia em dinheiro, que seu esposo doou para a Santa Casa de Misericórdia (151).       


  O casamento de Augusta, que contava então 19 anos de idade, ocorreu em 19 de fevereiro de 1870, conforme esta notícia estampada no “Dezenove de Dezembro”:

CASAMENTO- Sábado, 19 do corrente, casou-se o Sr. Manoel de Souza Dias Negrão com a Exma.Sra. D.Augusta Cândida Munhós.
O Sr. tenente coronel Caetano José Munhós, pai da noiva, em sinal de regozijo por este consórcio deu na mesma noite um baile em nada inferior aos que ultimamente foram oferecidos ao Exmo. Sr. Dr. Dias da Rocha (a) pelos seus amigos, e à assembléia provincial pelo Exmo. Sr. presidente da província. (b)
A delicada hospitalidade da Exma. família do Sr. tenente coronel Munhós sobremodo penhorou ao inexcedível concurso de convidados que concorreram a tão prazenteiro sarau” (152).
-----------------------------
(a)  Era então presidente da Assembleia Legislativa. 
(b) No DD de 19 de fevereiro de 1870- p. 3 consta nota sobre o baile oferecido pelo presidente da Província Dr. Antônio Luis Afonso de Carvalho aos membros da Assembleia Legislativa provincial. Nesse baile, que durou até perto das 4 horas da manhã, o “serviço de chá e dos refrescos foi ótimo”. A nota conclui assim: “Remontando às eras mais remotas não há memória de uma festa semelhante no Paraná” (sobre esse baile, v. também o Folhetim do DD de 26 de fevereiro de 1870- p.1).

  Manoel de Souza Dias Negrão deixou este registro a propósito do seu casamento, de cuja festa participou a “população de mais consideração da capital”:
  
   Casei-me no dia 19 de fevereiro de 1870 com Augusta Cândida Munhoz Negrão, filha legítima do tenente coronel Caetano José Munhoz e D. Francisca de Assis Franco Munhoz. O ato que realizou-se em oratório particular, à rua do Comércio desta cidade, hoje do Imperador, pertencente ao meu sogro e na contígua de propriedade do Sr. Manoel Gonçalves dos Santos (153), foi esplêndido. Todas as autoridades civis e militares, a sociedade completa de Curitiba se achavam presentes. Achavam-se também presentes o Presidente da Província Antonio Luiz Affonso de Carvalho, entre outros dos mais distintos cidadãos, importantes e amigos; secretário de governo Pamplona de Menezes, Dr. Agostinho de Leão, Dr. Dias da Rocha, Muricy, Assembleia Provincial em sua maioria, tenente coronel Antonio Ricardo Lustoza, Eugenio Luz; meus irmãos João, Ricardo e Antonio; minha mãe, minhas irmãs Belisa, Guilhermina e Maria; Capitão Tibúrcio de Macedo, Antonio Franco, Bento de Menezes, Antonio Nóbrega, Silveira de Miranda, Antonio de Paula, João Carvalho de Oliveira, família Gonçalves, filhos do Sr. Francisco José Gonçalves, Pedro de Queiros, Nicolao Lopes, Dr. Barros, Candido Lopes, Comendador Ricardo dos Santos, Dr. Generoso Marques, Tte. Cel Benedicto Eneas de Paula, Juca Bittencourt, Manoel Bittencourt, Damaso Bittencourt, Julio Franco, Adolpho Franco, Sesinando Ribas, João Baptista Ribeiro, famílias de todos estes; Joaquim Lourenço de Sá Ribas, Augusto Stelfelld, Vicente Luz, diretor da estrada de D.Francisca, Dr. Horacio e outros mais que não posso no momento lembrar-me. Suponho que a população de mais consideração da capital toda se achava presente, porquanto o vasto salão do então hotel - Polônio – e toda espaçosa casa em que efetuou-se o casamento se achavam tomados de convidados. O serviço de mesa e o aparato; a regularidade, a ordem, a abundância da diversidade de doces, licores, cerveja e outras bebidas, o menu não podiam ser mais completos.
     A imprensa deu notícia a mais lisonjeira... (154)

  Analisando a relação das pessoas presentes na cerimônia, observo que, apesar da vinculação do noivo ao Partido Conservador, seus amigos tanto pertenciam a esse partido como ao Liberal (era o caso de Generoso Marques,  Benedicto Enéas de Paula, Dr. Murici e outros).   

  Alfredo Munhoz, em comentário a essas linhas escritas pelo cunhado,  afirma que o que mais o impressionou nessa “festa esplêndida” foi “uma quadrilha ou contra-dança, composta pelo hábil maestro Capitão Bento de Menezes”. Segundo F. Negrão, esse “conhecido e talentoso musicista” era parente de João Manoel da Cunha, também músico (e professor de latim e francês), pai do compositor Brasílio Itiberê (155). David Carneiro afirma que Bento de Menezes (1830-1902) deixou “inúmeras composições, especialmente missas de Réquiem” (156).

                                                 *

   João Alberto Munhoz, nascido em 10 de dezembro de 1852 (157), “ocupou por largos anos as funções de Diretor do Interior, Justiça e Instrução Pública no governo do Estado” segundo Alcides Munhoz (158). Casou-se com Maria Eulália Moreira. Um de seus filhos foi Carmen Munhoz, que casou com Joaquim Góes de Mello. São os pais do desembargador José Munhoz de Mello (1912-...), presidente do Tribunal de Justiça de 1953 a 1958. Outra filha, Valdívia, casou com José Antonio Gonçalves, que, por sua vez, são os pais do desembargador Jayme Munhoz Gonçalves (1913-...) (159).

Conforme DD de 2 de dezembro de 1868, p.2, João Alberto, que tinha então 16 anos,  é um dos 8 alunos aprovados nos

exames finais na escola da 2ª. cadeira da capital sob a presidência do sr. inspetor geral Dr. Ernesto Francisco de Lima Santos, sendo examinadores o respectivo sr. professor Antonio Ferreira da Costa e o sr. professor do liceu João Manuel da Cunha

(na matéria consta o texto do discurso do inspetor geral proferido na ocasião, com muitas citações bíblicas). Dentre os alunos aprovados são citados  também Jesuíno Martins Lopes e Nivaldo Teixeira da Silva Braga (1852-1924). No futuro, este fundaria o Colégio Curitibano e a “Revista do Paraná”, “o primeiro jornal ilustrado do Paraná”. Também se casaria com uma prima de João Alberto, filha de seu tio tenente-coronel Paulino de Oliveira Franco, irmão de D. Francisca (160).  

Quase dois anos mais tarde, no final de 1870, o jornal (161) informa que João Alberto foi um dos “aprovados plenamente” em francês nos exames dos alunos do colégio de Jacob Mueller, de Curitiba, realizados de 14 a 17 de novembro. Outros alunos aprovados do colégio: Moisés Marcondes de Oliveira e Sá, Jesuíno Martins Lopes, Nivaldo Teixeira Braga, Alberto José Gonçalves (que depois iria estudar no Seminário Episcopal de São Paulo) e Cândido Ferreira de Abreu.  

O nome de João Alberto integra a relação dos cidadãos da paróquia de Curitiba em condições para o serviço do Exército e da Armada, publicada no DD de 25 de setembro de 1875- p. 3. Mas após o seu nome, consta:  “Está isento por ser administrador dos engenhos do seu pai”. 

Em fins de dezembro de 1877, nota no DD afirma que João Alberto partiu para Ponta Grossa, a fim de trabalhar na comissão a cargo do engenheiro Victor Barreto Nabuco de Araújo. Essa comissão estava encarregada de diversas providências destinadas a possibilitar o assentamento de imigrantes russos (russos-alemães, como se dirá nos próximos relatórios de governo) nos Campos Gerais, alojando-os naquela cidade “enquanto se fazia a aquisição, medição e distribuição das terras”, conforme consta no relatório do presidente da província Joaquim Bento de Oliveira Júnior de 7 de fevereiro de 1878, p. 53. A nota do jornal (162) afirma também que João Alberto “há pouco voltara do Rio da Prata”. E conclui elogiando as qualidades desse “moço distinto”. Deduzo que para lá viajara a fim de tratar de assuntos pendentes relacionados aos negócios de seu pai, falecido em julho de 1877.

Em 1880, foi inaugurado o hospital da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. A cerimônia de inauguração contou com a presença do imperador D. Pedro II e sua comitiva. Dentre as pessoas da comunidade paranaense que lá estavam presentes, e assinaram a Ata relativa ao evento, incluíam-se João Alberto Munhoz e seu primo Bento Munhoz da Rocha (cf. o livro de Francisco Negrão-- “Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba”, Curitiba, 1932, p. 21)

F. Negrão, na “Genealogia Paranaense”, chama João Alberto de “tenente-coronel” (da Guarda Nacional). Mas aos 29 anos, conforme o DD de 20 de setembro de 1882- p.1, ele é nomeado tenente da Guarda Nacional (da 5ª. Companhia, do 1º Corpo de Cavalaria). Essa elevação da patente militar, que deve ter ocorrido por etapas, correspondeu à sua ascensão profissional, nos anos futuros.

Edital do juiz de direito Agostinho Ermelino de Leão, da comarca da capital, publicado no DD em janeiro de 1883 (163), menciona João Alberto dentre os cidadãos que requereram para serem alistados eleitores da comarca.  No final do mês seguinte, verifico pelo jornal que ele é um dos cidadãos “que foram qualificados eleitores” da paróquia da capital, conforme edital do juiz municipal da cidade de Curitiba e seu termo (164).

Quanto ao início de sua vida profissional, no “Expediente da presidência” da província de 22 de fevereiro de 1881, publicado no DD (165) consta despacho dirigido ao diretor geral da instrução pública, autorizando-o a contratar João Alberto Munhoz, mediante a gratificação anual de 800$, como professor da cadeira de instrução primária do bairro de Ipiranga, o qual devia, entretanto, “prestar nesta capital o preciso exame” (166). No ano seguinte, ele é transferido para a “cadeira promíscua” da Borda do Campo (167).

Mas não exerce muito tempo essas funções de professor pois ainda em 1882 seu contrato é rescindido, e ele é  nomeado oficial da secretaria da Assembleia Provincial, cargo que exerce também por um curto período, de 13 de outubro de 1882 a 20 de janeiro de 1883. Segundo o DD dessa última data, p. 3, ele foi nomeado “oficial da administração do correio desta província” (168).  Nessa condição  ele assina vários avisos do Correio Geral do Paraná publicados no DD, de agosto de 1884 a maio de 1885 (169). O DD de 10 de junho de 1886- p. 1 comunica que ele foi exonerado, a pedido, desse cargo. O Correio subordinava-se então ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Por isso, João Alberto foi exonerado por portaria desse Ministério, de 2 de junho, conforme consta do relatório do presidente Joaquim de Almeida Faria Sobrinho de 30 de outubro de 1886, p. 51.  Outra edição do “Dezenove de Dezembro” informa que em 28 de julho desse ano ele entrou em exercício do cargo de administrador do registro do Chapecó, para o qual fora nomeado antes (170) (essa região da província do Paraná situava-se no território contestado, que pelo Acordo de 1916 passou para Santa Catarina). No DD de 14 de março de 1887- p. 2 consta que João Alberto entrou com requerimento na Assembleia Provincial “pedindo que se restabeleçam os vencimentos de administrador da barreira do Chapecó, que percebia anteriormente”. O despacho, conforme o “Expediente da assembleia”, encaminha o requerimento à Comissão de Fazenda. 
Até 1889 João Alberto exerceu as funções de subdelegado do Passo do Assungui, pois o DD de 26 de junho desse ano, p.1, noticia as diversas exonerações de autoridades policiais que então ocorreram (em decorrência da assunção do  gabinete liberal de 7 de junho), inclusive a dele, cuja exoneração foi “a pedido”.
O nome de João Alberto constou da relação de jurados de Curitiba no período de 1884 a 1889 (171).  
Em 1888, o DD de 2 de maio, p.3, publicou nota de agradecimento dele ao médico Dr. Trajano Reis que tratou “desinteressadamente” de sua filha Valdívia, “já restabelecida de grave enfermidade”.
No começo da República a freguesia de N Sra da Conceição do Cercado é elevada à categoria de vila, com a denominação de vila de Tamandaré, contando com uma “comissão municipal” presidida por João Alberto Munhoz e integrada por mais 5 membros (cf. DD de 11 de janeiro de 1890- p. 2).  Trata-se do atual município de Almirante Tamandaré, cuja denominação mais antiga era Pacotuba (172). Por outro lado, as “comissões municipais”, que substituíram as câmaras muncipais, seriam chamadas depois de “intendências municipais” (cf relatório do governador José Marques Guimarães de 18 de fevereiro de 1890, p.14).    
                                                 *

Carolina Munhoz nasceu em 11 de julho de 1854 e faleceu em 2 de junho de 1933, aos 78 anos (173). Casou-se em primeiras núpcias com Eugênio Ferreira Luz e em segundas núpcias com seu primo Manoel Martins Rocha, filho de Manoel Martins da Rocha e da irmã de CJM, Maria Lícia (174).

Manoel Martins da Rocha (provavelmente o sogro de Carolina, e não o marido homônimo), é citado no relatório do presidente em exercício Agostinho Ermelino de Leão de 24 de dezembro de 1870, p. 32. Ele integra uma comissão, nomeada por esse presidente em 30 de abril desse ano, destinada a promover uma subscrição visando a conclusão das obras da matriz de Campo Largo, cujos recursos complementariam o “auxílio dos cofres provinciais”. A comissão era integrada ainda pelo respectivo vigário e o tenente-coronel Francisco Pinto de Azevedo Portugal.

Conforme nota publicada no DD (175), Carolina Lícia Munhoz casou em 7 de janeiro de 1871 com Eugênio Ferreira Luz, filho do major Vicente Ferreira da Luz. Este era dono de engenho de erva mate “movido a força hidráulica no Barigui”, com “uma situação comercial lisonjeira”, segundo Ermelino de Leão (176). Foram padrinhos o Dr. José Cândido da Silva Murici (casado com uma irmã do noivo, de acordo com F. Negrão) e o major Bento Florêncio Munhoz (irmão de CJM). A nota do DD conclui afirmando que o ato teve lugar em oratório particular em casa do pai da noiva. Carolina tinha então 16 anos.

Eugênio Ferreia Luz é mencionado, na condição de 2º escriturário da Tesouraria Provincial, no relatório do vice-presidente Agostinho Ermelino de Leão citado acima, de 24 de dezembro de 1870-p. 26.

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  Francisca Munhoz, nascida em 6 de abril de 1856, casou-se com o major Francisco de Paula Ribeiro Vianna, “que foi Tesoureiro da Delegacia Fiscal de Curitiba”, segundo F. Negrão. Ele também informa que o marido de Francisca era irmão do comendador João Manoel Ribeiro Vianna  e que ambos eram netos, por parte de mãe, do primeiro prefeito de Curitiba, José Borges de Macedo (177).  De acordo com Maria Nicolas, João Manoel R. Vianna (1853-1902) nasceu em Curitiba mas “transferiu-se para Antonina, dedicando-se à indústria da erva-mate e do arroz e ao comércio atacadista”. Chefe político local, coronel da Guarda Nacional, foi vereador, presidente da Câmara Municipal de Antonina e deputado por várias legislaturas à Assembleia Provincial (Estadual, depois de proclamada a República) (178). Acrescento que era vinculado ao Partido Liberal, conforme se diz no DD de 26 de fevereiro de 1886- p .1.

O presidente Luiz A.L. de Oliveira Bello nomeou o então capitão Francisco de Paula Ribeiro Vianna 1º suplente de juiz municipal do termo da capital, por ato de 10 de novembro de 1883, em substituição ao major Luiz Manoel Agner, que pediu exoneração desse cargo, “visto ter de mudar sua residência”. Francisco era antes 2º suplente de juiz municipal (cf. relatório desse presidente da província de 22 de agosto de 1884, p.6).

Deve ter ocorrido com Francisco de P. Ribeiro Vianna o mesmo que com o seu cunhado Florêncio José Munhoz, apresentado a seguir, o qual esteve alguns anos excluído do Ministério da Fazenda, por ter se posicionado contra Floriano Peixoto na época da Revolução Federalista, sendo depois reintegrado aos quadros fazendários. O nome de Francisco consta ao lado do de Florêncio numa relação de “ex-empregados de fazenda” publicada no Diário Oficial da União de 26 de junho de 1896 (p.2, seção 1).

Assim como Florêncio, nessa opção política, deve ter sido influenciado pelo tenente-coronel Theophilo Soares Gomes (um dos líderes da Revolução Federalista no Paraná, meio-irmão de sua esposa), Francisco deve tê-lo sido pelo seu irmão coronel João Manoel R. Vianna, chefe político de Antonina, como foi dito acima, ao qual Theophilo e os outros liberais da região eram associados.

  Vale registrar ainda que o nome de Francisco consta numa relação dos maçons da antiga Curitiba publicada no site Museu Maçônico Paranaense, que também informa que ele nasceu em 5 de maio de 1851 (179).  





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