6.4- O 2º casamento e seus filhos
D. Francisca Cândida de Assis Franco Munhoz
faleceu em Paranaguá a 3 de julho de 1861, com 42 anos (1). Logo em
seguida, no mesmo ano, CJM casa-se com D.Narcisa de Paula Xavier (1844-1909) (2), sobrinha de Francisca, filha de sua irmã
Leocádia.
Narcisa ao casar-se contava apenas 17 anos
enquanto CJM, 44. Seus pais eram o major Antônio de Paula Xavier e D. Leocádia
Franco de Paula Xavier, filha de João Gonçalves Franco (3). A seção 7.1
do cap. 7 deste trabalho é dedicada a ela.
Desse segundo casamento de CJM nasceram 8
filhos, conforme F. Negrão (as datas de nascimento e morte foram extraídas do
livro de E.B. Corrêa, quando não citada
outra fonte) (4):
-Leocádia Munhoz- nasceu em 5 de julho
de 1862 e faleceu em 2 de outubro do mesmo ano.
A data de nascimento desta criança revela que CJM se casou com D.
Narcisa ainda em 1861, aproximadamente três meses após o falecimento de
Francisca.
-Lindolpho Munhoz- nasceu em 12 de
fevereiro de 1864. O casal CJM-Narcisa -- que já sofrera o rude golpe da morte
da primogênita antes de completar três meses de idade -- ainda deveria passar
pelo sofrimento da morte trágica do segundo filho, em 3 de agosto de 1866, assim
noticiada pelo “Dezenove de Dezembro” do dia seguinte, p. 4:
DESASTRE- Um menino
de 2 1/2 anos de idade, filho do Sr. tenente-coronel Caetano José Munhós,
brincava ontem às 3 horas da tarde no terreiro da casa, junto ao engenho de
soque, que nessa ocasião trabalhava; presume-se que aproximando-se do canal que
conduz água à roda aí caíra, e que levado pelo impulso da corrente, rompera uma
cerca que divide o canal e batera de encontro à roda. O seu cadáver encontrado
poucos instantes depois boiando deixava ver sinais de ter sido esmagado.
-Narciso do Carmo Munhoz (1865-...).
“Foi inferior do exército”, diz F. Negrão. O
DD de 23 de dezembro de 1885- p.3 informa que o 1º cadete Narciso do Carmo
Munhoz foi aprovado nos exames da escola regimental do 2º corpo de
cavalaria.
-Adalberto
Florêncio Munhoz- nasceu em 22 de abril de 1868. “Foi militar”. Que
drama estará associado à vida desse filho que, falecendo em 1887, não chegou a
completar 20 anos? Aparentemente, não
foi uma morte inesperada pois já o Expediente da Secretaria Militar de 31 de
janeiro de 1885, publicado no DD de 13 de março do mesmo ano, p.2, inclui
despacho a um certo Dr. Pires, mandando-o inspecionar “de saúde” o 1º cadete do
3º Regimento de Artilharia a Cavalo Adalberto Florêncio Munhoz. Outro despacho,
publicado no mesmo ano (DD de 24 de março, p.1), solicita ao comandante do 3º
Regimento que remeta à Secretaria Militar a certidão de assentamentos desse “1º
cadete furriel” (o furriel, no Exército
do Brasil imperial, era um posto acima do cabo-de-esquadra e abaixo do
segundo-sargento, conforme o dicionário Aurélio, verbete “Hierarquia”). Adalberto
faleceu em 21 de dezembro de 1887 (5).
-Olívia Narcisa Munhoz- nasceu em 1 de
fevereiro de 1873. Casou com o telegrafista Elpídio Werneck de Capistrano,
irmão do poeta Adolpho Werneck (1879-1932), segundo meu amigo o escritor Rui
Werneck de Capistrano, neto de Adolpho. Dentre
os 76 alunos matriculados em 1886 para a “aula de desenho e pintura” dirigida
por Mariano de Lima no Instituto Paranaense consta o nome dela. Outros nomes que integram essa relação são os
dos também adolescentes Júlia Wanderley (1874-1917), Silveira Neto (1872-1942) e
Romário Martins (1874-1948) (6). O
DD de 7 de janeiro de 1887-p.2 publica matéria sobre a inauguração dessa “aula”,
que contou com a presença do presidente Faria.
Olívia Narcisa faleceu
em 24 de julho de 1945.
-Amadeu Munhoz- nasceu em 29 de agosto
de 1874. Aos doze anos, foi retirado, pela mãe, da Escola de Aprendizes
Marinheiros da Corte, pois ali se alistara sem seu conhecimento (7). Nas palavras
de F. Negrão, “Foi capitão do Regimento de Segurança do Estado do Paraná.
Oficial brioso e destemido que executou sempre as mais arriscadas comissões”. Por
outro lado, Romário Martins, na “História do Paraná”, afirma que o “Alferes
Amadeu Munhoz” pertenceu ao “Batalhão 23 de Novembro”, o qual resistiu em
janeiro de 1894 à invasão federalista de Paranaguá (8). Estava portanto nas fileiras que lutavam
contra os “maragatos” (antiflorianistas), apoiados pelo seu meio-irmão
Florêncio e o cunhado deste, Francisco de Paula Ribeiro Vianna. Esse é um
exemplo de como a Revolução Federalista dividiu as famílias paranaenses.
Amadeu
suicidou-se em 22 de junho de 1905, com um tiro no ouvido direito, no quartel
do Regimento de Segurança por volta do meio-dia, como informam dois jornais da
época (9). Ainda não
completara 31 anos. Havia manifestado tal
intenção a amigos, na véspera, tanto no Club Curitibano quanto no Restaurante
Guarani. No dia do suicídio, pela manhã, foi visto na praça Tiradentes, à
paisana, participando da procissão de corpus-christi.
Depois, já de uniforme, foi para o quartel, onde ocorreu o fato, cuja
motivação, segundo “A República”, teria sido desilusão amorosa (“Acabrunhado
por desgostos íntimos que se prendem à questão amorosa pôs termo à existência
/.../” ). Mas o “Diário da Tarde” não aponta razões para o suicídio. Amadeu deixou
duas cartas, que segundo “A República”, eram endereçadas a esse jornal e àquele
Diário. Nelas, segundo “A República”, ele justificava “o passo desvairado que
ia dar, motivado por uma paixão amorosa que o desesperava”. Em seus bolsos, foram
encontrados um “relógio e corrente de ouro, uma tesourinha, algum dinheiro e um
pequeno pacote de pastilhas”. A nota do “Diário da Tarde” afirma ainda: “Ao
tempo da revolução de 94 fez parte do batalhão patriótico”. Ambos os jornais referem-se ao cunhado Jordão
Mäder (então com 29 anos) que teve uma síncope ao ver o corpo no quartel.
-Conrado Munhoz- tinha um ano em 30 de
dezembro de 1877 mas já era falecido em 20 de julho do ano seguinte (10).
-Maria Munhoz- nasceu em 12 de abril de
1878 (filha póstuma de CJM). Casou com Jordão Mäder (1876-1952) (11), “importante
industrial de erva-mate” segundo F. Negrão. Faleceu em 10 de março de 1948. Um de seus filhos foi o professor Algacyr
Munhoz Mäder (1903-1975), prefeito de Curitiba em 1945 e ex-reitor da
Universidade Federal do Paraná.
Como se viu,
dos dois casamentos de CJM descendem pessoas que se destacaram na sociedade
local, não só no campo da política -- que apresenta maior visibilidade -- mas
também no direito, no magistério, no serviço público, na vida militar, na
literatura e nos estudos históricos e sociológicos.
![]() |
Curitiba- rua das Flores - década de 1860 (acervo Cid Destefani) |
NOTAS
(1)
NEGRÃO, Francisco-- “Genealogia Paranaense”- op cit, v. I, p. 237. Segundo me
informou a Mitra Diocesana de Paranaguá, com base no livro de registro de
óbitos, ela faleceu em 4 de julho de 1861, aos 42 anos, de hidropisia (“hidropisia”
é um termo antigo para “edema”). Logo, ela nasceu em 1819, antes de 29 de
setembro, data de seu batismo, já referida.
(2) Conforme
a pesquisa de CORRÊA, Eremir Bley- “Memória de Família”- op cit, p. 192, D.
Narcisa foi batizada em 7 de janeiro de 1845 aos cinco meses de idade, em
Curitiba, e aí faleceu em 29 de setembro de 1909. Tinha, portanto, 65 anos ao
falecer. Sua morte foi noticiada em “A República” de 29.09.1909- p.2. No mesmo
jornal, edição de 2.10.1909- p. 3, os familiares agradecem aos médicos drs.
Manoel Carrão e Reynaldo Machado e convidam para a missa de 7º dia, a ser
celebrada pelo monsenhor Celso Itiberê da Cunha.
(3)
NEGRÃO, Francisco—“Genealogia Paranaense”- op cit, v.I, p. 480, corrigida pela
Errata que consta no v. II.
(4) NEGRÃO,
Francisco-- “Genealogia Paranaense”- op cit, v.I, p. 254 e seg.; CORRÊA, Eremir
Bley-- “Memorial de Família”, op cit, p.197-199
(5) DD de
24.12.1887-p.2
(6) DD
de 11.09.1886- p.3
(7)
Essa informação consta num requerimento de D. Narcisa Munhoz ao Juiz de Órfãos
da Capital, datado de 10.08.1887, e integrante do processo de inventário de CJM
(8) MARTINS,
Romário-- “História do Paraná”- op cit, p. 242
(9) “A República” de
22.06.1905- p. 2; “Diário da Tarde” de 22.06.1905- p. 2
(10)
Conforme a documentação do processo de inventário de CJM
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