7. TRÊS DESTAQUES
FEMININOS
Ao longo da minha
pesquisa no jornal “Dezenove de Dezembro”, obtive algumas informações sobre
três mulheres da família de CJM, que julguei apropriado incluir neste trabalho, voltado para a caracterização
de sua vida e sua época. Espero que possam lançar alguma luz sobre a condição
feminina no tempo do Império, em Curitiba. São
elas-- D. Narcisa de Paula Xavier Munhoz, a 2ª esposa de CJM, D. Maria do Céu
Taborda Munhoz, esposa de seu irmão Bento Florêncio Munhoz, e Francisca Munhoz,
neta de CJM.
7.1- D. Narcisa de Paula Xavier Munhoz
Após o falecimento de
CJM, sua viúva, D. Narcisa -- depois
de o substituir por algum tempo na direção dos engenhos -- transfere a
propriedade deles para Silva & Irmão. Transfere também (para essa ou outra
empresa) as marcas conceituadas da sua erva-mate, inclusive a marca “Caetano”, que
“foi vendida por alto preço”, como salienta Francisco Negrão na “Genealogia
Paranaense”.
Em 1882, D. Narcisa, então com 38 anos, decide
estabelecer uma escola primária na capital. Para tanto, solicita subvenção do
governo provincial, no que é atendida. O seguinte despacho dirigido ao encarregado do Tesouro Provincial e contido no “Expediente
da presidência” da província de 10 de junho de 1882, publicado no DD (1), mostra isso:
Em deferimento à petição que me dirigiu D.
Narciza de Paula Xavier Munhós que pretende estabelecer uma escola nesta
capital, mande V.Sa. pagar-lhe a subvenção a que se refere o art. 8º do
regulamento de 16 de julho de 1876, depois que ela provar, por meio de
atestados, o dia em que a aula começou a funcionar e a frequência desta por um
número regular de alunos.
Segue-se a este despacho:
“Comunicou-se
à Diretoria da Instrução Pública”.
(por essa época, o DD (2) também publica nota informando que D. Narcisa é “a festeira” da Festa da SS.
Trindade, a realizar-se na Igreja Matriz de Curitiba).
Em janeiro de 1884, consta
no DD (3)
que 1.123 alunos estavam
matriculados “nas diversas cadeiras do ensino primário desta capital”. Citam-se
aí as diversas escolas então existentes, uma delas a “Escola particular
subvencionada, regida por D. Narcisa de Paula Xavier Munhoz”, com 78 alunos.
Outros professores mencionados, dirigentes de escolas, são Miss Bessie Braund,
Jerônimo Durski, D. Mathilde de Drusina Meissner, D. Constança Perpétua Borges,
Augusto Boecker e D. Virgínia Margarida de Paula Peniche (no mesmo DD citado,
p. 3, outra nota informa que D. Narcisa obteve um aumento da subvenção recebida
do governo provincial, porque sua escola contava com mais de 50 alunos).
Nesse ano de 1884, a prioridade da
Província era o ensino obrigatório, ênfase da administração do presidente
Oliveira Bello (que se estendeu até meados desse ano) e do seu sucessor, Brasílio
Machado. Em abril, o DD (4) publica o relatório “Sinopse do Ensino
Obrigatório” relativo à 1ª.Circunscrição, da Capital, que reflete a situação em
dezembro de 1883. Havia aí uma população escolar de 1289 crianças, de ambos os
sexos. Os dados são distribuídos por: escolas públicas, subvencionadas (onde se
incluía a de D. Narcisa, que possuía então 79 alunos matriculados),
particulares e noturnas.
As escolas estavam
sujeitas à fiscalização do governo. Na de D. Narcisa Munhoz, já com 90 alunos
matriculados em fevereiro de 1885, constatou-se a frequência de 78 alunos (5). Posteriormente, em reunião havida no
palácio do governo provincial, os superintendentes do ensino obrigatório
apresentaram “o resultado da visita geral que fizeram aos estabelecimentos de
instrução elementar públicos, particulares e subvencionados”. A escola de D. Narcisa
era “subvencionada” e “promíscua” (dos 90 alunos matriculados, 4 eram masculinos
e 86 femininos) (6).
Em meados de 1888, consta
no DD (7) a ata da Assembleia Provincial que registra requerimento de D. Narcisa, “professora subvencionada nesta
capital pedindo para ser tornada efetiva a cadeira que ocupa”. O despacho
encaminha o assunto à Comissão de Instrução Pública.
Uma
nota publicada no jornal, em março de 1884, não se refere diretamente a D.
Narcisa, mas a seu irmão, Zacarias de Paula Xavier, então com 30 anos. Revela uma disputa dentro da família com os herdeiros
do brigadeiro Manoel de Oliveira Franco (de quem Zacarias e sua irmã Narcisa eram
sobrinhos). A viúva e filhos de Manoel de Oliveira Franco
protestam contra um anúncio de Zacarias de Paula Xavier relativo à venda de um
terreno no “Boqueirão”, “em cima da serra de Campo Largo”. Seu argumento é que
esse terreno
faz parte dos campos
de “Tamanduá” que lhes pertencem, e nele se estabeleceu o dito Zacarias, como antes
se havia estabelecido seu pai Antonio de Paula Xavier, por favor e com licença
do referido Brigadeiro.
Quem assina a nota é
Escolástica J. de Sá Ribas Franco, Adolpho Ribas d’Oliveira Franco e outros (8). A “Genealogia Paranaense” afirma que
o coronel Zacarias de Paula Xavier (1854-1925), nascido em Campo Largo , era “um
espírito empreendedor”, que implantou a fábrica de louça “Colombo”, depois “S.
Zacharias”, “a primeira que se fundou no País”. Era “possuidor de vastos
latifúndios em vários pontos do Estado”. Tanto Narcisa quanto Zacarias eram
filhos do major Antonio de Paula Xavier, que se casou com uma irmã do Brigadeiro
Franco, D. Leocádia, segundo essa fonte (9).
No início da República, relatório
do segundo dirigente do governo do Estado desse período, registra a criação,
pelo decreto nº 38, de 11 de fevereiro de 1890, de uma escola promíscua de 1ª
entrância em Curitiba e a nomeação, na mesma data, da professora D. Narcisa de
Paula Xavier Munhoz, “para reger a mesma escola” (cf relatório do contra-almirante
José Marques Guimarães de 18 de fevereiro de 1890- p. 13).
D.Narcisa ainda viveria
por quase duas décadas, pois só faleceu em 1909, aos 65 anos, como já foi dito.
A nota de seu falecimento, publicada em “A República” de 29 de setembro de 1909-
p. 2, refere-se a ela como “professora pública aposentada”.
NOTAS
(1) DD de 21.06.1882-
p. 1. No DD de 23.09.1882- p. 2 é mencionado um novo requerimento de D.
Narcisa, com este despacho: “Ao Sr. Dr. Diretor da instrução pública para
marcar o dia”.
(2) DD de 27.05.1882-
p.4
(3) DD de 18.01.1884- p.3
(4) DD de 16 de abril de 1884- p. 1
(5) DD de 26.02.1885- p.3
(6) DD de 16.04.1885-
p. 3
(7) DD de 31.07.1888-
p.1
(8) DD de 29.03.1884-
p. 4. O anúncio de Zacarias de Paula Xavier foi publicado no DD de 28.03.1884-
p. 4; para a resposta dele à nota dos herdeiros, ver DD de 17.04.1884- p.
4
(9) NEGRÃO,
Francisco-- “Genealogia Paranaense”- op cit, v. I, p.480-484; v.II, p. 345-346
e 618.
7.2- Maria do Céu
Taborda Munhoz
Maria do Céu tornou-se
viúva de Bento Florêncio Munhoz em 7 de setembro de 1880 (1). Tinha então 43 anos. Após enviuvar,
ela passa a se dedicar ao magistério, caminho também seguido, na mesma época,
pela sua concunhada Narcisa, sete anos mais jovem.
No final do mês em que Bento faleceu, o “Dezenove
de Dezembro” publicou (2), sob o título “A Pedido”, este
“Agradecimento”, cuja transcrição é útil também para avaliarmos a capacidade de
expressão escrita da futura professora de escola pública (esse texto já foi
parcialmente comentado na nota 1 da seção 6.6 do cap. 6, onde consta alguma
informação sobre as pessoas nele citadas, integrantes do círculo social do
casal na região litorânea):
Reconhecidamente grata às pessoas constantes
e indescritíveis de bondade e cavalheirismo de que fui cercada na cidade de
Antonina, por ocasião do fatal golpe por que ali passei com a morte do meu
marido Bento Florêncio Munhoz, eu não posso privar-me do dever imperioso a que
me impõe o sentimento profundo do coração, ao manifestá-lo do alto da imprensa.
Se não posso agora externar a um por um esse
sentimento da mais elevada gratidão, por não ter em memória os nomes de tantos
que obsequiosamente me acompanharam em tão aflitiva situação, seja-me
permitido, ao menos, lembrar as seguintes pessoas de quem conservo as
recordações mais saudosas e indeléveis: Exmas. Sras. DD. Maria Rosa Santos,
Isabel Pires, Francisca Corrêa de Araújo, Esperança Nunes Barbosa e os Srs. Dr.
José Justino de Mello, João Eugenio Gonçalves Marques, Antonio Vianna de
Araújo, José Antonio dos Santos, Manoel Nunes Barbosa, major Francisco Antonio
de Souza, capitão Pereira, Praxedes e Adriano.
Queiram tão distintas pessoas e o
hospitaleiro povo da cidade de Antonina aceitar as sinceras expressões que lhes
dirijo, como os votos do meu verdadeiro e eterno reconhecimento por tanto que
lhes devo.
Curitiba, 25 de setembro de 1880
Maria do Céo Taborda Munhoz
Ela passará a dar aulas
em 1882, como se infere da seguinte nota, publicada no DD de 26 de abril
de 1882- p. 3:
Por atos de 24 do
corrente e sob proposta da diretoria geral foi restaurada a escola promíscua do
Pilarzinho, no município desta capital, sendo nomeada D. Maria do Céo Taborda
Munhoz para regê-la interinamente.
(os
engenhos de erva-mate de seu irmão Mathias Taborda Ribas também se localizavam
no Pilarzinho, como vimos).
Ela
entrou no exercício do cargo em 2 de maio de 1882 (3) (pouco mais
de um mês antes do despacho presidencial em favor de D. Narcisa, que viabilizou
o início das atividades da escola desta). Logo depois, encaminha dois
requerimentos ao governo provincial. No primeiro, supõe-se que pede para se
submeter ao exame de suficiência de praxe pois este é o despacho que consta no “Expediente
da presidência“ da província de 25 de julho de 1882, publicado no DD (4): “Ao Dr.
Diretor da instrução pública para admitir a exame a suplicante” (o diretor,
desde 19 de julho, era Moisés Marcondes (1859-1928), filho do conselheiro
Jesuíno Marcondes e seu futuro biógrafo) (5).
No outro requerimento, registrado no
“Expediente da presidência” de 2 de setembro do mesmo ano (6), devia solicitar
a melhoria das condições infraestruturais da escola do Pilarzinho, uma vez que
no “Expediente” do dia 11 (7) consta despacho à Instrução Pública autorizando
“a aquisição dos móveis de que carece a escola do Pilarzinho a cargo de D.
Maria do Céo Taborda Munhoz, não excedendo a despesa de 42$000”. Por fim, no
“Expediente” de 24 de outubro consta sua
nomeação definitiva (8):
O presidente da
província, tendo em vista as provas de habilitação exibidas em exame por D.
Maria do Céo Taborda Munhós, resolve nomeá-la para definitivamente reger a
cadeira promíscua de instrução primária do lugar denominado Pilarzinho, no
município desta capital .
Mais
tarde, em janeiro de 1886, o presidente Taunay cria “uma cadeira para o sexo
feminino desta capital, removendo para ela e à pedido a professora pública da escola
promíscua do Pilarzinho, D. Maria do Céo Taborda Munhoz” (9).
Maria do Céu (antes de
tornar-se professora de escola pública) é citada nas informações biográficas de
Francisco Carvalho de Oliveira (1863-1927), patrono da cadeira nº 28 da
Academia Paranaense de Letras (10):
/.../ órfão de mãe,
logo se vê amparado pelos carinhos de sua madrinha, Maria do Céu Taborda
Munhoz, que lhe ensina as primeiras letras.
Realmente a afeição de
Maria do Céu, que não teve filhos, para com esse afilhado parece ter sido muito
grande. Em seu testamento, datado de 19 de março de 1891 (hoje no acervo do Arquivo
Público do Estado), ele é o primeiro a ser contemplado. Deixou a Francisco sua
parte na casa que tinha na rua Riachuelo, em Curitiba, e dois contos de réis em
dinheiro. Acrescentando este valor aos
outros que distribui para diversos beneficiários (em quantias individuais
sempre menores que a de Francisco), o montante total distribuído, em dinheiro,
chega a pelo menos seis contos e setecentos mil réis (no documento, danificado
pelo tempo, um dos valores pode ser 400, ou variar de 600 a 900 mil réis;
considerei o menor valor).
O testamento inclui
ainda “um par de brincos de brilhantes de meu uso, com duas pedras em cada
brinco” e sua casa na rua de S. José (atual Marechal Floriano), em Curitiba.
Essa casa Maria do Céu deixa em usufruto da irmã Maria da Glória Taborda Ribas,
enquanto viver. Após a morte desta, a
propriedade passaria para a Irmandade de Nossa Senhora da Luz de Curitiba, “com
obrigação de todos os anos mandar sufragar a minha alma”. Também fica em usufruto dessa irmã “todos os remanescentes”
de seus bens, cuja metade, depois da morte dela, passaria ao seu afilhado
Francisco Carvalho de Oliveira.
D. Maria da Gloria
Taborda R. Franco é citada no relatório do presidente Rodrigo Octavio de
Oliveira Menezes de 31 de março de 1879, anexo G, intitulado “Relação dos
terrenos medidos para estabelecimento de imigrantes, cuja compra foi ordenada
pela presidência e ainda não realizada pelos motivos abaixo declarados”. Maria
da Gloria Taborda R. Franco é ali citada como dona de um terreno no município
de Curitiba no valor de 5:139$002. A justificativa para a não efetivação da
compra consta ao lado da menção ao seu nome: “Há embargo sobre o preço da
venda; e talvez por isso ainda não comparecesse a proprietária”.
Algumas notas publicadas
em “O Paranaense” dos dias 15 e 23 de novembro de 1879, com críticas ao juiz
Emygdio Westphalen, referem-se a um processo de mais de 240 páginas em que
“contendem os herdeiros do finado Brigadeiro Franco com a família Taborda”. Em
outra nota afirma-se que o juiz proferiu sentença “na execução que os herdeiros
do finado brigadeiro Manoel d’Oliveira Franco movem ao ausente Luiz José
d’Oliveira Franco”. D. Maria da Glória Taborda casou-se com esse irmão do
Brigadeiro, segundo F. Negrão. O casal não teve filhos. O tenente-coronel Luiz
José d’Oliveira Franco foi “Coletor das Rendas Gerais em Curitiba, nomeado pela
Província de S.Paulo. Em 1853 deixou esse cargo retirando-se para o Sul, donde
não mais voltou.”
O DD de 6 de janeiro de 1886-
p. 3 refere-se à farmácia de Francisco Carvalho de Oliveira, “farmacêutico pela
faculdade de medicina do Rio de Janeiro”. Foram aviadas ali 439 receitas de 10
médicos e 1 cirurgião-dentista durante o último trimestre de 1885. Os médicos
citados são: Victor do Amaral (312 receitas), Trajano Reis (51), Pires de
Albuquerque (44), Gomes do Amaral (9), Justino de Mello (8) (citado acima, na
nota de agradecimento de Maria do Céu), Candido Alves (3), Alves Pinto (3),
Euclides Requião (3), Pires Caldas (2) e Franco Grillo (2). O
cirurgião-dentista é Gastão Worms (2 receitas). Esses eram os profissionais de
saúde a que a população curitibana então recorria.
Em
1889, ata da sessão da Assembleia Legislativa Provincial de 4 de outubro
registra a entrada do requerimento de Maria do Céu, “professora vitalícia da 2ª
cadeira de instrução primária do sexo feminino desta cidade, pedindo um ano de
licença para tratar de sua saúde”. O requerimento é encaminhado às Comissões de
Justiça e Fazenda (11). Recebe
parecer favorável pois nas Disposições Gerais da lei orçamentária publicada no DD de 2 de novembro do mesmo ano, p. 2, o Executivo
é autorizado a lhe conceder um ano de licença, “com ou sem vencimento”.
Mas
já no começo de 1890, no início da República, pelo decreto nº 33, de 31 de
janeiro desse ano, ela é “jubilada” pelo governo do Estado “por sofrer de
moléstia contagiosa e incurável”, “no lugar de professora da 2ª cadeira para o
sexo feminino desta capital, com o vencimento anual de 300$000 rs” (cf tópico
“Jubilações” do relatório do contra-almirante José Marques Guimarães de
18.02.1890- p. 13. “Jubilação” significa, segundo o dicionário Aurélio, “Aposentadoria
(honrosa, por via de regra) de professor”).
Como
vimos, ela elaborou seu testamento em 1891, aos 54 anos, depositando-o “lacrado em cinco pontos” no 1º
Tabelião- Joaquim José Belarmino Bittencourt. O documento só foi aberto quinze
anos depois, em 2 de fevereiro de 1906, data de seu falecimento (12).
NOTAS
(1) DD de 11.09.1880-
p. 4. No ano anterior, seu nome é citado em anúncio publicado na “Província do
Parana” de 24.05.1879- p. 4. Ela e Albino Gonçalves Guimarães divulgam o
programa da festa do Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade.
(2) DD de 29.09.1880-
p. 3
(3) DD de
24.05.1882-p.2
(4) DD de 9.08.1882-
p. 1
(5) DD de 2.08.1882-
p. 3; DD de 16.08.1882- p. 1; HOERNER Júnior, Valério et al.-- “Academia
Paranaense de Letras: biobibliografia”- op cit, p. 38
(6) DD de 16.09.1882-
p. 1
(7) DD de 30.09.1882-
p. 1
(8) DD de 15.11.1882-
p. 1; v também DD de 30.09.1882- p.1 (“Expediente da presidência” do dia 16 de
setembro de 1882. Consta aí autorização da presidência para que o diretor da
Instrução Pública contrate com Maria do Céu Taborda Munhoz a regência da
cadeira promíscua do Pilarzinho, uma vez que ela exibiu “provas de habilitação
para o magistério público”, conforme informado por aquele diretor).
(9) Cf relatório do
presidente Alfredo d’Escragnolle Taunay ao passar a administração da província,
em 3.05.1886- p. 13 (v. também DD de 30.01.1886- p. 2). Antes dessa remoção,
ela se inscrevera num concurso público promovido pelo governo provincial
visando o “provimento da cadeira d’instrução primária para o sexo feminino” em
Curitiba (DD de 23.12.1884- p. 1; DD de 25.12.1884- p.3). Mas seu nome não
constou depois na relação publicada dos 13 candidatos aprovados nesse concurso
(DD de 10.01.1885- p. 2).
(10) HOERNER Júnior, Valério
et al.-- “Academia Paranaense de Letras: biobibliografia”, op cit, 933 p. 215
(11) DD de
12.10.1889- p. 1. Dois meses antes, o DD de 9.08.1889- p.3, publicara este aviso:
“2ª cadeira do sexo feminino. Esta cadeira desta capital está funcionando na casa
da professora D. Maria do Céo Taborda Munhoz, à rua de S. José”. Mas no final do mesmo mês, em 28 de agosto, o
presidente da província lhe concedeu três meses de licença, com vencimentos,”para
tratar de sua saúde, deixando substituta idônea, paga à sua custa, conforme
propôs” (cf DD de 11.09.1889- p. 1). Após obter essa licença de três meses, ela
encaminha o pedido à Assembleia referido acima, visando ampliar o afastamento em
mais um ano, para tratar de sua saúde.
(12) Cf nota de seu
falecimento em “A República” de 2.02.1906- p. 2.
![]() |
Francisca Munhoz no atelier Fonte: "Revista do Paraná" nº 1, p.5- litografia de Narciso Figueras, 1887 |
7.3-
Francisca Munhoz
Francisca Munhoz
(1869-1942) (1) era filha do primeiro casamento de
Alfredo Caetano Munhoz, primogênito de CJM, por muitos anos dirigente da
Tesouraria de Fazenda nacional na província do Paraná, como vimos. Era um homem
instruído, que teve boa educação, sabia várias línguas e escrevia para os
periódicos da época. Adotou uma postura progressista em relação à condição
feminina. Alcides Munhoz transcreve em seu livro (2) um artigo de Alfredo intitulado “A Mulher”, publicado em
1898, onde se lê:
Repelimos com toda a força de nossa
convicção a ideia emitida por certos espíritos retrógrados ou egoístas – de que
a mulher não é suscetível do progresso de igual natureza e com idênticos fins
que os do homem, mas um ser inferior destinado somente à procriação da espécie
(p.76).
Favorável à educação
feminina, o que não era então consensual como hoje, recomendava-lhes o estudo, “para
desenvolver vossa inteligência”.
A justificativa para eu escolher
apenas essa neta de CJM dentre várias outras reside no fato de que Francisca,
muito jovem, se destacou no meio, haja vista as frequentes referências a ela no
“Dezenove de Dezembro”. Desempenhou então -- nos anos 80 do século XIX (i.e. no
final do Império) -- um papel pioneiro importante, ao mostrar as
potencialidades intelectuais da mulher e ao servir de exemplo para as
demais.
A primeira menção a Francisca,
feita no jornal, diz respeito à sua inscrição nos “exames gerais, de
preparatórios”, requisito para ingresso nos cursos superiores do País. Os
candidatos podiam se submeter a tais exames em Curitiba, pois havia aqui uma
representação do governo central encarregada de supervisionar esses exames. Mas
se fossem aprovados teriam de continuar os estudos em outra província, uma vez
que não havia faculdade em Curitiba nem em outra cidade do Paraná.
Essa representação era a
Delegacia da Inspetoria Geral da Instrução Pública da Corte na província do
Paraná. O DD de 8 de julho de 1884- p. 4 publicou edital de sua secretaria, assinado
por Carlos Vieira da Costa. O nome deste coronel já é citado, quase dois anos
antes, no relatório do presidente Carlos de Carvalho de 1º de outubro de 1882.
Ele era, nesta província, o delegado especial do “inspetor geral da instrução
pública primária e secundária do município da corte”, o padre João Baptista
Ferreira Bello (p.96-97). Cabia-lhe promover aqui os exames das matérias que
permitiriam, ao candidato aprovado, acesso aos cursos superiores do Império. O edital divulga o nome dos alunos
inscritos para os exames em diversas matérias, que serão realizados de 14 a 18 de julho. Francisca
Cândida Munhoz está inscrita em português, francês e geografia (só ela e Luiza
Cândida Saldanha são as inscritas do sexo feminino). Outras matérias desses
“exames gerais, de preparatórios”, eram: inglês, retórica, filosofia, história,
aritmética e geometria (3).
Edições do jornal da segunda
metade de julho (4)
informam que Francisca
foi “aprovada plenamente, com distinção” nessas três matérias em que se
inscreveu. Ela era “aluna do acreditado colégio Santa Tereza”, dirigido por D.
Zelie Costa (esposa de Carlos Vieira da Costa). Esse Externato S. Tereza era de instrução primária e secundária (5).
Uma
semelhança com os tempos atuais é o fato de já haver em Curitiba naquela época
um curso de preparação a esses exames. Na edição do DD de 16 de janeiro de 1885, p. 3, consta
anúncio de um “curso livre de preparatórios” à rua do Rosário que prepara
alunos “em todas as matérias necessárias à admissão nas faculdades de medicina
e de direito e nas escolas militar, politécnica e de marinha”.
Nesse ano de 1885, Francisca se inscreveu em inglês
e aritmética. Seu nome integra a “Relação
dos candidatos inscritos para os exames gerais de preparatórios, que começarão
no dia 10 do corrente”, publicada pelo DD de 2 de dezembro de 1885- p.3. Ela é
a única inscrita do sexo feminino naquelas matérias. Nas outras, português, francês,
latim, filosofia, história, geografia, geometria, retórica e álgebra, não havia
nenhuma candidata inscrita (6).
Novamente,
saiu-se muito bem nos exames, sendo “aprovada plenamente” neles. (7).
Mas após informar aquele
ótimo desempenho de Francisca em cinco matérias dos exames “de preparatórios”,
o DD não mais menciona seu nome associadamente aos outros exames a que poderia
também se submeter. Ela deve ter se sentido desestimulada a prosseguir neles,
uma vez que não era usual as jovens abandonarem a província para estudar fora,
ou mesmo frequentar cursos superiores.
Na sequência, seu nome
estará presente no jornal associado a três outras atividades: o charadismo, o magistério
e as belas-artes. Aparentemente, ser professora era a alternativa profissional
que lhe restava, da mesma forma que às outras mulheres daquela época. Como se
verá abaixo, ela chega a se interessar pela profissão, já seguida pela avó
Narcisa e a tia-avó Maria do Céu, após enviuvarem. O magistério fazia parte da tradição
da família. A primeira professora pública de Curitiba, Rita Ana de Cássia
Franco, era também sua tia-avó. Rita, por sua vez, era neta do português Manoel
Teixeira Oliveira Cardoso, um dos primeiros mestres-régios da cidade, como
vimos (cf seção 6.1 do cap. 6). Mas o casamento com o então alferes do Exército
Carlos Cavalcanti de Albuquerque mudaria o rumo de sua vida.
Nota do DD de 11 de julho
de 1885- p. 2 menciona “Mlle. Francisca Munhoz” dentre as pessoas que
decifraram as charadas do dia 8. No
jornal do dia 15, p. 2, é ela quem propõe charadas. Nessa mesma edição do DD,
seu nome também consta dentre as pessoas (“major Saturnino, capitão Pitta e
Francisco Ribas”) que resolveram as do dia 11. No DD de 17 de julho, p. 3, a seção “Charadas” do jornal
inicia com as “Oferecidas a D. Chiquinha Munhoz por Francisca Amélia Correa de
Menezes”, cuja solução aquela faz publicar no DD do dia seguinte (p.2). Esta
amiga era irmã do poeta Emílio de Menezes, que aliás frequentava a casa de
Alfredo Munhoz, o pai de Francisca, declamando poesias nas reuniões familiares
que aí se realizavam, conforme o biógrafo do poeta. O curitibano Emílio nasceu
em 1866, foi aluno do professor João Baptista Brandão de Proença e do Instituto
Paranaense e partiu para a Corte em 1887, onde se radicou (8). Outras edições do DD (9) também mencionam o nome de Francisca,
associado à proposição ou resolução de charadas. Na edição do dia 22 de julho
consta que decifraram as charadas oferecidas por Francisca os srs. Ângelo
Ribas, Pretextato Taborda, Emílio Nunes e D.F. (Francisca A.C.) de
Menezes.
Por essa época, o Club
Abolicionista Paranaense estava promovendo quermesses a fim de levantar fundos
para a indenização dos proprietários visando a emancipação dos escravos. O DD de 21 de março de 1885- p.3
publica relação de diversos objetos oferecidos para tais quermesses, a serem realizadas proximamente. Francisca
contribuiu com “um lindo par de jarras de porcelana”.
Em 1885 Francisca já não
é mais citada como aluna do Externato Santa Tereza e sim do Colégio Curitibano, pois o DD de 30 de
agosto desse ano, na p. 3, informa que durante a semana letiva “finda ontem”,
obtiveram nota “Ótima” nas disciplinas indicadas os alunos desse Colégio ali
relacionados. Em “Análise” consta o nome dela. As disciplinas são: caligrafia, leitura,
sinônimos, análise, francês, geografia, aritmética, contabilidade, história universal,
retórica poética, doutrina cristã e cousas (10).
O Colégio Curitibano funcionava no Palacete Wolf, construído em 1880, segundo o
site da Fundação Cultural de Curitiba, da qual o prédio sedia atualmente
algumas unidades (11). O DD informa que funcionava nos nºs 3
e 4 do “largo do Rosário (Alto do S.Francisco)”; recebia alunos de ambos os
sexos, contanto que fossem menores de quatorze anos; era dirigido pelo prof.
Nivaldo Teixeira Braga, que também lecionava português, francês, geografia,
história, retórica e pedagogia; outros professores: Otto Finkensiepper (alemão
e inglês), Tertuliano Teixeira de Freitas (“matemáticas”), pe. João Evangelista
Braga, irmão de Nivaldo Braga (latim, “doutrina cristã e moral evangélica”),
Bento Antonio de Menezes (música e canto) (12).
Bento, como vimos, tocou no casamento de Augusta, tia de Francisca.
O Colégio Curitibano é
citado no relatório do presidente Faria de 30 de outubro de 1886, p. 87 como um
dos cinco estabelecimentos particulares de ensino secundário existentes na
cidade. O único estabelecimento público, nesse grau de ensino, era o Instituto
Paranaense, gratuito, com 64 alunos. Nessas instituições escolares estudavam-se
as disciplinas integrantes dos exames preparatórios, pré-requisito para o
ingresso nos cursos superiores do Império. O relatório cita também os outros
quatro colégios particulares então existentes: Parthenon, dirigido por Laurentino
de Azambuja; S.José, por José Cupertino da Silva Costa; Santa Rosa, por Joaquim
Serapião do Nascimento e a “Deutsch Secundar Schule”, por A. Hersberg.
Conforme o DD de 17 de
março de 1886- p. 3, o Colégio Curitibano abrangia os cursos primário, secundário
e normal (a existência aí desse curso explica por que Francisca trocou o Externato
Santa Tereza por ele: encaminhava-se para o magistério). “O curso normal
restringe-se ao ensino das matérias estatuídas pelo regulamento da instrução
pública da província para a escola normal, adotando-se exclusivamente ao sexo
feminino”, diz ainda aquela mesma edição do DD. Nessa época Júlia Wanderley
(1874-1918) também era aluna desse Colégio (13).
Dez anos antes, em 1876, o governo provincial, na gestão de Lamenha Lins,
criara a Escola Normal, que funcionava juntamente com o Instituto Paranaense,
na rua Aquidaban. Mas por uma atitude moralista equivocada, ela não era
promíscua, e sim exclusiva para alunos do sexo masculino. Assim, a escola
normal pública não aceitava alunos do sexo feminino!
O presidente José Cesário
de Miranda Ribeiro, quando trata da Instrução Pública em seu relatório de 30 de
junho de 1888, revela a visão predominante na época sobre esse assunto. Ele era
uma pessoa erudita (como mostra seu relatório). Formara-se em Direito pela
faculdade de S.Paulo, e depois de governar a nossa província entrou para a
magistratura, segundo David Carneiro. Para José Cesário é admissível a escola
mista, para ambos os sexos só na primeira ou mesmo na segunda infância. Mas “é
de todo ponto repugnante aos nossos costumes na idade da adolescência”.
Em nada inferior ao homem em faculdades intelectuais e capaz de percorrer com brilho todos os domínios da ciência, a mulher em sua primeira mocidade não pode sujeitar-se, sem extrema violência ao seu organismo e ao seu pudor, ao mesmo regime disciplinar de estudos que o homem. As consequências funestas desse sistema igualitário para sua vida ulterior são indubitáveis e são postos em saliente relevo por todos os educacionistas modernos.
Em nada inferior ao homem em faculdades intelectuais e capaz de percorrer com brilho todos os domínios da ciência, a mulher em sua primeira mocidade não pode sujeitar-se, sem extrema violência ao seu organismo e ao seu pudor, ao mesmo regime disciplinar de estudos que o homem. As consequências funestas desse sistema igualitário para sua vida ulterior são indubitáveis e são postos em saliente relevo por todos os educacionistas modernos.
Recomenda então que se
crie uma “Escola Normal de senhoras” em edifício separado, independente daquela
que funcionava junto com o Instituto Paranaense. Mas esta Escola, em 1890, passou
a aceitar alunos do sexo feminino, graças
aos esforços de Júlia Wanderley, que foi a primeira mulher a nela ingressar, onde
se formou professora normalista (14).
Entretanto, algumas outras professoras antes dela também merecem ser lembradas,
inclusive a primeira professora do ensino público de Curitiba, Rita Ana de
Cássia Franco, mencionada há pouco, irmã da 1ª esposa de CJM, de quem a jovem
Francisca herdou o nome. E também Luíza Cândida Saldanha, que em 22 de setembro
de 1885 obteve título de habilitação ao magistério público, como normalista,
após submeter-se aos exames perante os professores da Escola Normal (15).
Seguindo seu exemplo,
Francisca encaminha requerimento à Assembleia Legislativa, que é lido na sessão
de 6 de dezembro daquele ano, “pedindo ser admitida a exame vago das matérias
da Escola Normal”. Recebeu este despacho: “`A Comissão de Instrução Pública” (16). Ata de sessão anterior da Assembleia,
realizada em 22 de novembro, também publicada no jornal (17), afirma que a Comissão de Instrução
Pública ofereceu projeto- de- lei autorizando o presidente da província “a
mandar admitir a exame vago das matérias que constituem o curso da escola
normal as alunas do Colégio Corytibano” que aí relaciona, em número de 14. O presidente
fica autorizado ainda a “expedir-lhes, no caso de aprovação, diploma de
normalistas”, a fim de gozarem dos direitos do regulamento de 16 de janeiro de 1884.
Essas alunas do Colégio tinham reivindicado à Assembleia Provincial a
possibilidade de prestar o exame em questão. O nome de Francisca, por alguma razão,
não constou da relação mencionada, das 14 alunas. Deve ser por isso que ela
encaminha depois requerimento individual,
lido na sessão da Assembleia de 6 de dezembro, reivindicando o mesmo que as
outras alunas.
Em 25 de março de 1886
foi reinstalada a Biblioteca Pública no edifício do Museu provincial (18). Na cerimônia então realizada, com a
presença do presidente Taunay, Francisca Munhoz foi um dos jovens que
proferiram discursos, juntamente com Ermelino Agostinho de Leão e um aluno da comunidade
alemã. Tinha então 17 anos.
No começo do ano
seguinte, em 7 de janeiro de 1887, numa cerimônia realizada no Instituto
Paranaense, houve uma distribuição de prêmios aos alunos que mais se destacaram
em 1886 nas escolas da capital, conforme o relatório do Diretor Geral de
Instrução Pública Luiz Antonio Pires de Carvalho e Albuquerque, anexo ao do
presidente Faria Sobrinho de 17 de fevereiro de 1887. Foram distribuídos então
24 prêmios, cada um com sua própria denominação. Francisca Munhoz, “discípula
da professora D. Elvira Pinho”, recebeu o prêmio “Senador Taunay” (“um rico
tinteiro”, oferecido pelo Diretor Geral da Instrução Pública).
A propósito, no rol dos
premiados é citada uma aluna da professora D. Maria do Céu Taborda Munhoz (que
ganhou uma caderneta no valor de 20$000 réis, oferecida pela Sociedade
Humanitária Paranaense) e outra aluna, esta da professora D. Narcisa de Paula
Xavier Munhoz (a premiada ganhou um “rico livro de poesias encadernado”,
oferecido por João Eugênio Gonçalves Marques). Também consta aí o nome de
Alfredo Caetano Munhoz, como doador de dois prêmios (dois livros, um dos quais
a “História do Brasil de Machado”).
A edição do “Dezenove de
Dezembro” de 2 de fevereiro de 1886- p.3 publicou um artigo com o título “Belas
Artes” e subtítulo “D. Francisca Candida Munhós” . Nele, o autor (anônimo)
elogia “D. Chiquinha Munhós” e descreve seu quadro de pintura exposto no “Bazar
de Modas”, uma tela de 50 cm
“representando, em deliciosa paisagem, um canto da Baviera”.
Referindo-se a Francisca,
diz o autor:
/.../
nome já tão respeitado e simpático porque ele recorda a inteligência, a
ilustração e o amor ao trabalho
Mais adiante, afirma:
No nosso
país, onde a educação da mulher é tão desprezada, a minha terra natal deve se
sentir orgulhosa de poder apresentar, no meio dessa natureza esplêndida /.../,
no meio dessas flores /.../ uma flor que perfuma por todas.
O autor conclui o artigo
afirmando que acompanha o Sr. Alfredo Munhoz “na justa satisfação experimentada
pelos triunfos de sua prezada filha” e dá “mil parabéns” ao Sr. Mariano de
Lima, professor de Francisca, ao qual ele agradece, “em nome de nossos
comprovincianos, pelo gosto que tem sabido desenvolver entre nós, pelo estudo
da arte de que é tão saliente apóstolo”.
Antônio Mariano de Lima
(1858-1942) era um artista português que emigrou para o Brasil em 1883 e no ano
seguinte foi encarregado de realizar painéis decorativos no teatro São Theodoro
(antecessor do teatro Guaíra), em Curitiba. Após a conclusão desse trabalho, permaneceu
na cidade e fundou a nossa primeira escola de belas artes, incentivado para
tanto pelo presidente Taunay, segundo Adalice Araújo. “Assim é que, a 22 de
julho de 1886, o Executivo Paranaense autoriza Mariano de Lima a inaugurar em
uma das salas do Instituto Paranaense sua Aula
de Desenho e Pintura, que, três anos após (graças ao Decreto Estadual nº 1
de 29 de novembro de 1889) seria transformada em Escola de Artes e Indústrias”,
nas palavras dessa autora (19).
Na realidade, Antonio
Mariano de Lima ofereceu-se “para reger gratuitamente aula de desenho e pintura
no Instituto Paranaense”, o que foi aceito pelo governo provincial (20).
Mariano de Lima não vivia
só das aulas de pintura. No DD do dia 30 de julho de 1886- p. 3, além do
anúncio de seu “Gabinete de Pintura”, consta outro dele, como agente da “melhor
e a mais antiga casa de eletricidade no Brasil, com fábrica em Paris”. Anuncia
para-raios, “telefones Ader”, tímpanos de aviso e indicação para interior de
edifício”, eletricidade medical- pilhas Ledanche etc. Isso mostra que ele reforçava o orçamento
doméstico atuando como agente de vendas de material elétrico...
A edição de 12 de maio de
1886 do DD traz, na p. 2, um soneto,
assinado por “C.I.”, antecedido por esta dedicatória: “Para o álbum da exma.
sra. d. Francisca Munhós artista-pintora” e logo abaixo: “Oferece e dedica aos
seus ditosos pais um amigo e parente.”
No mesmo ano, o DD de 7
de agosto, p.2, publica relação dos alunos matriculados (“até o dia 4 do
corrente”) na “aula de desenho e pintura”. Dentre as sete alunas citadas, três
delas são Francisca Munhoz, Rachel Cesarina Munhoz (irmã de Francisca) e Olívia Narcisa Munhoz (filha do 2º
casamento de CJM); dentre os nove alunos, inclui-se Raul Munhoz (irmão de Francisca).
Saliente-se aqui a influência que deve ter sido exercida por Alfredo sobre a
educação artística desses filhos e da meia-irmã, revelando em especial à importância
que ele atribuía à educação da mulher, no que se contrapunha à mentalidade
atrasada da província. Após dois dias, o DD de 9 de agosto, p.2, cita os alunos
que se matricularam de 5 a
8 de agosto na “aula de desenho e pintura”, sete do sexo feminino (inclusive Júlia
Wanderley) e cinco do sexo masculino, um deles o jovem Manoel Azevedo da
Silveira Neto (1872-1942), futuro escritor e pai do poeta Tasso da
Silveira. Manoel, conforme o DD de 11 de
agosto, p. 1, expusera na casa de modas de Ernesto Lima & Cia seu primeiro trabalho
à crayon representando o busto de
Victor Hugo (ele, como Francisca, já era aluno de Mariano de Lima).
Um mês mais tarde, o número de alunos é bem maior. O DD
de 11 de setembro de 1886- p.3 publica edital da secretaria da Instrução
Pública contendo os nomes dos 76 alunos matriculados para a “aula de desenho e
pintura” criada pelo governo provincial no Instituto Paranaense e dirigida por
Mariano de Lima (21). Além dos nomes já citados, consta aí
também o do historiador Alfredo Romário Martins (1874-1948). Todos eram então
adolescentes.
Uma semana depois, o DD
de 18 de setembro de 1886- p.1 informa que se acha “exposto no Grande Salão um
magnífico quadro a óleo, representando a despedida de Romeu e Julieta”. A nota
afirma que é o quinto estudo de pintura empreendido por Francisca Munhoz. Conclui
assim:
Nessa cópia revela a
jovem paranaense os mais belos dotes para o estudo das Belas Artes, no qual
tanto se vai distinguindo. Nossos parabéns.
Esse quadro motiva um
longo texto, entusiástico, de um admirador de sua arte (que não se identifica,
e diz que não teve a honra de conhecê-la), publicado no DD de 22 de setembro de
1886- p.3, intitulado “Carta à Exma. Sra. D. Francisca Munhoz”. Chama-a de
“talentosíssima senhora”. Critica indiretamente o meio, “que desfaz
implacavelmente os nossos sonhos e paralisa a nossa alma!...”. Dirige-se a ela
pedindo que seu
grito repassado de
amargura não cale o espírito delicado de V. Exa. Que ele vos sirva de estímulo
para romperdes as cadeias enferrujadas da indiferença asfixiante que nos rodeia
/.../ Tudo o que pode haver de mais cristalino e de mais suave a projetar-se
melancolicamente na alma humana para transparecer na polidez fisionômica,
assentastes com maestria na face peregrina de Julieta no momento supremo da
despedida. Imprimistes naquele rosto de uma palidez simpática toda a
nostalgia—quem sabe?—do desconhecido e do infinito, que faz o vosso desespero e
o vosso consolo. Aquela lágrima, aquela lágrima sentida que treme no rosto
macerado da amante desditosa, tem toda doçura e todo amargor indefinidos de um poema ensopado de beijos
saudosos e de sonhos irrealizáveis
Prosseguindo nesse tom, conclui
a Carta saudando-a pela sua vitória e referindo-se ao seu mestre (o português
Mariano de Lima) que há de sentir, ao contemplar o trabalho dela, um “raio de
ventura” que vai “atenuar a morna melancolia que envolve a sua organização de
artista, atrozmente desiludido, e o seu coração saudoso da Pátria”.
No começo do ano
seguinte, 1887, o DD de 7 de janeiro, p.2 informa, finalmente, que se inaugurou
numa das salas do Instituto Paranaense, a “aula de pintura e desenho” dirigida
por Mariano de Lima, com a presença do presidente da província (Joaquim de
Almeida Faria Sobrinho). Nas paredes daquela sala estavam expostos vários
quadros à crayon e a óleo, um deles,
como destaca o jornal, o trabalho de Francisca “A despedida de Romeu”. Ainda sobre ela, diz a
matéria:
Notamos também sobre
o cavalete, em esboço, um retrato, trabalho da mesma inteligente senhora, que,
segundo os que conheceram o original, é dele o fiel transunto (22).
Entre os que fizeram
discursos alusivos à festa constam os nomes dos “acadêmicos” Emiliano Perneta e
Pamphilo d’Assumpção. Eles eram então estudantes de Direito em São Paulo. Na época, como já
foi dito, quem quisesse fazer curso superior tinha que sair do Paraná, pela
inexistência aqui de faculdades. Além do preparo intelectual, avaliado pelos
“exames de preparatórios”, isso requeria que os pais tivessem condições
econômicas para manter o filho fora da província durante o curso, arcar com
despesas de deslocamento etc. Por isso, o número de estudantes de curso
superior da Província era tão diminuto que eles eram motivo de notícia no
jornal. Veja-se por exemplo esta nota, publicada no DD de 11 de março de 1887-
p.2:
Estudantes
paranaenses-
Hoje partiram para a marinha, onde vão embarcar no vapor que os tem de conduzir
a seus destinos, os nossos jovens e esperançosos comprovincianos Srs. João
Pamphilo d’Assumpção, Octavio Amaral, João Candido Ferreira Júnior, Maciel
Filho e Emiliano Perneta, estudantes de direito e medicina. Estreitamos-lhes as
mãos, e desejamos-lhes boa viagem.
A propósito, Pamphilo
d’Assunção se casaria mais tarde com a pintora Maria Amélia, filha do juiz
Bento Fernandes de Barros e neta do brigadeiro Manoel de Oliveira Franco, este
cunhado de CJM (23).
O DD de 21 de abril de 1887-
p. 3 publica nota sobre Francisca Munhoz, referindo-se elogiosamente a um óleo
seu, cópia do retrato do “venerando” capitão Hipólito José Alves, já falecido
(deve referir-se a este óleo o esboço mencionado acima). Hipólito era sogro do
conselheiro Jesuíno Marcondes (24). Sobre
Francisca, a nota afirma ainda:
/.../ além de possuir
uma vocação vigorosa, é dotada de um extraordinário gosto estético, qualidades
que hão de com certeza cada dia avantajá-la nesse ramo da inteligência humana
Nessa época, um outro
artista que é referido frequentemente no jornal é Paulo d’Assumpção, estudante
na Corte, da Academia de Belas Artes e também da Escola Politécnica (25). Era irmão de Pamphilo d’Assumpção,
antes referido. Enquanto Paulo vai
estudar fora e realiza todas as suas potencialidades, Francisca permanece no
meio e não as realiza, dada a sua condição de mulher. Logo vai casar-se, fazer o
que no fundo o meio dela esperava, abortando a sua carreira de artista plástica
e assumindo o papel de esposa e mãe. Adequava-se assim às limitações sociais
então impostas à ascensão da mulher.
No DD de 28 de junho de 1887-
p.1 consta nota sobre o casamento de
Francisca Cândida Munhoz, “simpática e mimosa filha do Sr. Alfredo Caetano
Munhoz, digno inspetor da tesouraria de fazenda”, com o alferes Carlos
Cavalcanti de Albuquerque, engenheiro militar, realizado no dia 25 do corrente
na igreja Matriz, às 7 horas da noite. Foram testemunhas, por parte da noiva, o
major Mathias Taborda Ribas (deputado da Assembleia Provincial e tio-avô de
Francisca) e D. Josephina D. dos Reis, e por parte do noivo Joaquim Antonio
Gonsalves de Menezes e D. Carolina Munhoz da Rocha (irmã de Alfredo, tia
portanto de Francisca).
No dia do casamento,
A casa do Sr. Munhoz
achava-se elegantemente preparada, oferecendo o salão de jantar a perspectiva
de um bosque, que, ao brilho das luzes, tornava-o encantador.
Ao casamento seguiu-se um baile que se
prolongou até às 3 horas da manhã. “O chá foi de uma profusão e delicadeza
extraordinária, retirando-se todos saudosos e agradecidos à gentileza com que foram acolhidos” (26).
Carlos Cavalcanti de
Albuquerque (1864-1935) seria, na República Velha, um político importante,
elegendo-se para a Constituinte estadual de 1892, e depois para a Câmara
Federal. Foi presidente do Estado no período 1912-1916 (tendo como
vice-presidente Afonso Camargo) e depois senador (27). Durante sua gestão no governo do
Paraná, ocorreu a
Campanha
do Contestado, em que perdeu a vida o
irmão de sua esposa, o 2º tenente Caetano José Munhoz, neto de CJM, como vimos
anteriormente.
![]() |
Carlos Cavalcanti de Albuquerque por Andersen |
Nota publicada no DD de 3
de agosto de 1887- p. 2-3 informa sobre os prêmios a serem conferidos pela
Escola de Desenho e Pintura aos que se distinguirem nos próximos exames. Afirma
que os prêmios estão expostos na ourivesaria de Fortunato Nicolai. Também
acham-se ali expostos prêmios já entregues aos discípulos de Mariano de Lima.
Um deles é: “Um bracelete de ouro representando um pincel com palheta encimada
por uma coroa de pérolas, símbolo do talento”.
Junto ao bracelete, segundo a nota, vê-se um cartão, onde está inscrito:
“À minha querida e distinta discípula D. Francisca Munhoz- 25 de junho de 1887-
A. Mariano de Lima”. Mas essa data, como se viu acima, foi a do casamento de Francisca.
O bracelete era, na realidade, um símbolo da sua rendição ao papel tradicional
da mulher...
![]() |
Escola de Artes e Indústrias de Mariano de Lima |
![]() |
Mariano de Lima (Fonte das duas imagens: Araújo, Adalice-Dicionário das Artes Plásticas no Paraná. Curitiba, 2006, v. 1, p. 42-43) |
NOTAS
(1) Francisca Munhoz
nasceu em 22.04.1869 e faleceu em 23.12.1942, conforme consta em sua pedra
tumular no Cemitério Municipal S.Francisco de Paula, em Curitiba. Seu apelido
em família era “Sinhaca”. A “Gazeta do Paraná”, de Paranaguá, em 9.01.1876,
p.3-4, publicou um bonito poema sob o título “Quando eu for moça”, assinado por
Sinhaca e assim datado: Curitiba, 1875. Como Francisca nessa época tinha apenas
6 anos, certamente não foi ela a autora dos versos. Mas poderia ser seu pai,
Alfredo, que conforme mostrou Alcides Munhoz em “Folhas Cadentes” também compunha
versos humorísticos. Neste caso, ele daria voz à filha no poema... De qualquer forma, fiz questão de transcrevê-lo
abaixo destas Notas, não só por causa dessa suposição, mas principalmente pela
delicadeza dos versos e sua crítica bem-humorada aos costumes da época.
(2) MUNHOZ,
Alcides—“Folhas Cadentes”- op cit, p. 74-77. Parte desse texto é citado por TRINDADE,
Etelvina Maria de Castro-- “Clotildes ou Marias: mulheres de Curitiba na
Primeira República”- Curitiba: Fundação Cultural, 1996 (coleção Farol do
Saber)- p. 113. Informa-se aí que foi publicado originalmente em “A Colmeia”
ano I, nº 1, julho de 1898 (o artigo é dedicado à escritora feminista Mariana
Coelho).
(3) DD de 19.07.1884-
p. 3
(4) DD de 17.07.1884- p. 3; DD de 18.07.1884-
p. 4; DD de 19.07.1884- p. 3
(5) DD de 14.09.1884-
p.3
(6) Cf a relação
completa dos candidatos em duas edições do jornal: DD de 2.12.1885- p.3 e DD de
3.12.1885- p. 3
(7) DD de 15.12.1885-
p. 2; DD de 16.12.1885- p. 2
(8) MENEZES,
Raimundo—“Emílio de Meneses- o Último Boêmio”. 4ª ed. S.Paulo: Martins, 1960-
p. 21, 23 e 27. Emílio de Menezes (1866-1918) foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras alguns anos antes de falecer.
(9) DD de 19.07.1885-
p.2; DD de 21.07.1885- p.3; DD de 22.07.1885- p.2 e DD de 23.07.1885- p. 3
(10) Uma das matérias
prelecionadas pela professora Luíza Cândida Saldanha em sua residência é “Cousas
e Prendas Domésticas”, conforme anúncio de suas aulas particulares publicado no
DD de 6.06.1886- p. 3.
(11) Cf o seguinte
link, acessado em 12.08.2011:
(12) DD de 6.09.1885-
p. 3
(13) DD de
25.03.1886- p. 2.
(14) ERVEN, Herbert
Munhoz van—“Júlia Wanderley”. Curitiba: ed. do autor, 1945- p. 22.
(15) Consta no anúncio
da professora Luíza Cândida Saldanha referido acima (nota 10) que ela é “professora diplomada pela escola normal
desta província”. Isso, antes de 1890, quando a Escola Normal pública não
aceitava alunos do sexo feminino. Mas seu Título de Habilitação transcrito a
seguir, que ela fez constar abaixo do anúncio, nos ajuda a entender a
questão:
“Curitiba, 22 de setembro de 1885.
O Diretor Geral interino da Instrução Pública desta
Província, tendo em vista a Lei nº 777 de 9 de outubro de 1884 e o Ato da Presidência
de 19 do corrente mês e ano: atendendo que a aluna do Colégio Curitibano D.
Luíza Cândida Saldanha prestou exame vago de Pedagogia e Metodologia perante os
Professores da Escola Normal nos termos do art. 24 do Regulamento de 16 de
janeiro de 1881 sendo aprovada- Plenamente, mandei passar-lhe o presente título
de habilitação ao magistério público, para que em virtude dele e da Lei citada
goze das prerrogativas que lhe são inerentes. O Diretor interino, João Pereira
Lagos. Justiniano de Mello e Silva. Tertuliano Teixeira de Freitas. Coriolano
Silveira da Mota .”
Por aí se vê que
Luiza Saldanha foi professora normalista desde 1885, antes de Júlia Wanderley,
portanto. Mas Júlia teve o mérito de lutar pelo direito da mulher ingressar na Escola
Normal pública, o que afinal foi reconhecido em 1890, derrubando-se assim essa
barreira que havia para as mulheres do seu tempo.
(16) DD de 8.12.1885-
p.1; v também DD de 30.12.1885- p. 1
(17) DD de
11.12.1885- p. 2
(18) DD de
27.03.1886- p. 1
(19) ARAÚJO, Adalice
Maria de—“Dicionário das Artes Plásticas no Paraná”. Curitiba: ed. do autor,
2006- v.1- p.41; cf também p. 42 e 43. Nesta última, é reproduzida litografia
de Narciso Figueras que retrata Francisca Munhoz trabalhando na “Aula de
Desenho e Pintura” de Mariano de Lima (também o pai de Francisca, Alfredo
Caetano Munhoz, é citado nessa obra, na p. 43, como um dos professores, não
dessa “Aula” mas da Escola de Belas Artes e Indústrias que a sucedeu, nos anos
de 1890). O DD de 26.10. 1887- p. 2
noticia o lançamento do 1º número da “Revista do Paraná” (“revista ilustrada”),
redigida pelo professor Nivaldo Braga e afirma que na 5ª. página traz “o
retrato da Exma. Sra. D. Francisca Munhoz no atelier”.
(20) DD de
24.07.1886- p.2
(21) DD de
12.08.1886- p.2; DD de 6.10.1886- p. 2; DD de 31.12.1886- p. 2
(22)Transunto: “1.
Cópia, traslado. 2. Retrato fiel; imagem” (dic. Aurélio).
(23) NEGRÃO,
Francisco—“Genealogia Paranaense”- op cit- v.II, p. 462-467.
(24) NEGRÃO,
Francisco—“Genealogia Paranaense”- op cit- v.I, p. 394.
(25) Cf por exemplo DD
de 16.11.1887-p. 2; DD de 10.12.1887- p.2; DD de 31.12.1887- p.3; DD de
18.02.1888- p. 2; DD de 5.12.1888- p. 2; DD de 29.12.1888- p. 2; DD de
23.01.1889- p. 1
(26) “A Vida
Literária” nº 2, de 8.07.1887- p.4- também publica matéria sobre o casamento de
D. Francisca Cândida Munhoz com o alferes Carlos Cavalcanti de Albuquerque.
Está disponível no acervo microfilmado da BPP, em “Periódicos Diversos nº 1” .
(27) CARNEIRO, David
e VARGAS, Túlio—”História Biográfica da República no Paraná”. Curitiba:
Banestado, 1994- p.153-156. Há aí uma incorreção, na p.155: Francisca Munhoz não era irmã de Caetano
Munhoz da Rocha e sim sua prima, pois Caetano era filho de Mária Leocádia, tia
de Francisca (e irmã de Alfredo Munhoz).
ANEXO
Quando eu for moça
Quando eu for moça, não farei tão feios
os meus formosos e macios cabelos,
com essas trouxas,
que se chamam coques,
eu asseguro que não hão de vê-los!
Quando eu for moça, mostrarei o rosto
belo e tão puro como Deus o fez;
nunca o carmim, pós d’arroz ou tintas
manchar virão minha linda tez.
Quando eu for moça, no meu pescocinho
não porei voltas nem também coleira;
p’ra dar-lhe graça – um veludinho preto –
será bastante – tudo mais... asneira!
Quando eu for moça, rechonchuda ou magra,
não usarei apertar-me tanto;
não quererei converter-me em vespa,
perder saúde p’ra ganhar encanto!
Quando eu for moça, -- isso sim eu juro! –
as tais anquinhas
não porei em mim,
só a vaidade, que a razão domina,
se lembraria d’uma coisa assim!
......................................................
Quando eu for moça – me dirão agora
que farei tudo, inda mais que isso;
mas não farei, se não me ensinarem
a gostar tanto do que é – postiço.
Sinhaca
Curitiba- 1875
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