6.8- Falecimento de CJM
Transcrevo abaixo a notícia do falecimento de CJM, tal como foi
publicada no DD de 28 de julho de 1877- p.3 (a mesma edição do jornal publicou
na p.4 o convite para a sua missa de 7º dia):
PASSAMENTO- Na noite
de 25 do corrente entregou a alma ao Criador o tenente coronel Caetano José
Munhós, chefe de numerosa prole e negociante desta praça, vítima de um ataque.
Cidadão conspícuo e importante, o finado
deixa na terra esposa de segundas núpcias, muitos filhos e amigos.
Há muitos anos habitando esta capital, o
tenente coronel Munhoz dedicou-se logo de começo ao comércio, que lhe
apresentou uma fase menos lisonjeira, sorrindo-lhe a fortuna justamente nos
seus últimos anos de existência.
Bastante considerado por seus
comprovincianos, tendo ocupado importantes cargos de nomeação e eleição
popular, o finado desce ao túmulo rodeado de amigos e parentes, depois de ter
prestado ao seu país os serviços exigidos.
Esta redação expressa à família do morto
sinceros pêsames.
De fato, nos “últimos anos de
existência” de CJM, a conjuntura econômica
do mate era bem mais favorável que a da primeira metade da década de 1870,
segundo P.C. Padis. Para esse autor, com o enfrentamento local do problema da
falsificação melhora a qualidade do nosso mate e ele
se valoriza em
relação ao paraguaio. Além de melhores preços, o produto paranaense sofreu uma
elevação de mais de 25% nas quantidades exportadas, entre 1875 e 1879, de forma
que, por essa época, três quintas partes do mate consumido na América do Sul
eram provindas do Paraná (1).
Isso
lhe proporcionou uma renda considerável. Como vimos antes, na lista, publicada
pelo DD em 1876, dos cidadãos da paróquia de N.Sra da Luz de Curitiba aptos a
votar, a renda anual de CJM situava-se então entre 3.000$000 e 3.600$000 (2).
Também
o jornal “Província do Paraná”, edição de 27 de julho de 1877- p.3, de
oposição, declaradamente vinculado ao Partido Liberal, publicou o seguinte
necrológio, revelador da consideração que CJM desfrutava em seu meio social,
inclusive por parte de adversários políticos:
Faleceu ontem (sic) (*), repentinamente, às
4 horas da manhã, o sr. tenente coronel Caetano José Munhós, chefe de numerosa
família.
Descendente
de uma importante família de Paranaguá, veio o tenente coronel Caetano José
Munhós ainda muito jovem para esta capital, dedicando-se sempre à vida comercial,
que tanto honrara.
Aceite
sua exma. família a parte que tomamos em sua justa dor.
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(*) A data da morte foi 25 de julho, conforme consta
inclusive em sua pedra tumular, no Cemitério
Municipal S.Francisco de Paula, onde CJM foi sepultado.
Vale
destacar que em Antonina um negociante de jóias aí residente chamado Manoel
Jacintho Dias mandou celebrar missa pelo seu amigo, tenente-coronel CJM. É o
que informa a “Província do Paraná” de 11 de agosto de 1877, p. 4.
No
processo de inventário de CJM, já referido anteriormente, seu patrimônio foi
avaliado em 24:960$000 (dos quais 23 contos e 500 mil réis correspondiam aos dois
engenhos, à casa da rua do Comércio e a 4 escravos).
Quando
CJM faleceu havia uma dívida de 13:493$853, que com a continuação de
funcionamento dos engenhos efetivada por sua viúva (D. Narcisa), no período agosto/1877-meados
de julho/1878, ficou reduzida a 7:514$481, dos quais 5:849$496 correspondiam a
dívidas com o consignatário Silva & Irmão, de Montevidéu (dados do processo
de inventário de CJM).
O
valor líquido do patrimônio, após a dedução das dívidas, deveria ser repartido
entre a viúva, D. Narcisa, os cinco filhos que teve com CJM, vivos em 1877-78, além
dos dez filhos do 1º casamento.
Mas
essa expectativa dos herdeiros quanto à participação no espólio foi brutalmente
afetada pelo incêndio de grandes proporções ocorrido em 27 de abril de 1879 no
engenho da Glória (cf cap. 4 deste trabalho), que representou um prejuízo
estimado entre 10 e 12 contos de réis pelo Chefe de Polícia Luís Barreto Correa
de Menezes em seu relatório, referido antes. Isso certamente agravou a situação
financeira da família, em especial da viúva D. Narcisa e seus cinco filhos menores
de idade.
NOTAS
(1) PADIS, Pedro
Calil—“Formação de uma Economia Periférica: O Caso do Paraná”.S.Paulo: Hucitec;
Curitiba:Secretaria da Cultura e do Esporte do Estado do Paraná, 1981- p. 51 e 53
(2) DD de 3.05.1876-
p. 4; DD de 19.08.1876- p. 3
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